G. Alvarado
O presidente dos EUA, Donald Trump, transformou em bandeiras de combate de sua administração barrar o fluxo de migrantes que atravessam a América Central de sul a norte rumo à fronteira do México com o território norte-americano. Também, conter o tráfico de entorpecentes por essa via. Porém, não fala nada das armas que fazem o trajeto ao invés inundando a região e contribuindo a elevar a violência.
Esse tema fez parte da agenda do recente encontro entre o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, e seu homólogo estadunidense Mike Pompeo. Mas, não foi além de uma proposta para coordenar ações conjuntas na divisa comum para frear a passagem de armas fabricadas nos EUA.
Fontes mexicanas, entre elas a Procuradoria Geral da República, garantem que cresceu o uso desse armamento em ações criminosas perpetradas no país. No caso do de pequeno calibre e dos rifles foi de 9%. Nos rifles automáticos, de 63%, e nos fuzis de assalto, 122%.
Ebrard explicou que as operações conjuntas deverão ter um impacto real no traslado de armas norte-americanas ao México, um dos principais problemas enfrentados hoje. Só que será preciso ainda muita negociação e trâmites de todo tipo, entre eles a avaliação de especialistas na matéria.
O assunto não é novo. Recentes pesquisas em torno desse negócio ilícito e muito lucrativo mostram a magnitude que assumiu nos últimos tempos.
O Centro para o Progresso Americano, organização que se dedica a investigar e defender políticas públicas, divulgou no ano passado um documento intitulado “Além de nossas fronteiras” no qual revela que a cada ano mais de 210 mil armas de fogo são introduzidas ilegalmente no México procedentes dos EUA.
O contrabando em massa cresceu notavelmente depois de o então presidente Felipe Calderón ter aceitado transformar o país num muro de contenção contra o narcotráfico. A decisão desencadeou uma guerra interna que deixou centenas de milhares de mortos e não resolver o problema.
A dificuldade principal para conter esse fluxo é a facilidade enorme para comprar armas nas lojas nos EUA, seja qual for o calibre ou a quantidade. Além disso, as autoridades norte-americanas estão mais preocupadas em cuidar do que entra no país do que do que sai. A partir daí, se tornou relativamente fácil passar pela fronteira com remessas de armamento rumo ao território mexicano.
Aliás, os países mais assinalados como emissores de migrantes sem documentos – México, Guatemala, El Salvador e Honduras – são os que sofrem mais os efeitos do tráfico de armas desde os EUA.
É certo que nessas nações há causas estruturais que geral violência. Porém, essa questão seria menos grave se o crime organizado, as gangues e os criminosos não pudessem comprar tão facilmente armas de fogo.
Os EUA têm o dever moral de frear esse comércio ilegal e a comunidade internacional de denunciar a situação porque, no final das contas, a maioria dos mortos provém das camadas mais humildes da população.