G. Alvarado
Decorreram mais de 59 meses desde aquele 27 de setembro de 2014, e os pais dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa, município do estado mexicano de Guerrero, continuam esperando pela verdade e a justiça com relação ao sumiço de seus filhos, um crime que abalou a comunidade internacional.
Sem dúvida, é um caso paradigmático, que cobre de sombras a sociedade no país latino-americano deixando desmascarada a corrupção das autoridades conluiadas com o crime organizado, a indolência dos aparatos de investigação e justiça, e o desamparo em que se acha a população no meio de um nefasto jogo de poderes obscuros.
Até agora, foram criadas mais comissões em busca da verdade do que as informações que forneceram todas elas, juntas. Durante os primeiros quatro anos, que corresponderam ao governo de Enrique Peña Nieto, uma
poderosa força conseguiu silenciar os fatos.
Dos 43 jovens só se sabe vagamente que foram detidos pela polícia municipal da cidade de Iguala, onde queriam realizar uma manifestação para exigir melhores condições de estudos. A polícia entregou os normalistas a um bando de facínoras que teria se encarregado de matá-los. O prefeito da cidade e sua mulher foram detidos, bem assim alguns chefes policiais e funcionários sabidamente corruptos, só isso.
A extinta Procuradoria Geral da Nação emitiu com o consentimento do governo de Peña Nieto a “verdade histórica” de que os 43 corpos foram queimados num lixão que havia por perto e suas cinzas jogadas num rio. Porém, a realidade desfaz essa tese, como demonstrou um grupo científico independente.
Naqueles dias choveu copiosamente, como ocorre geralmente em setembro naquela região, e teria sido impossível acender uma fogueira tão grande. Além disso, também não havia combustível suficiente na área
para queimar esse número de corpos.
O que foi que fizeram com as vitimas? Por que o exército se negou categoricamente a abrir um quartel dos arredores para investigar lá? Por que vários dias depois do crime os celulares das vítimas de alguns estudantes continuavam ativos? São perguntas que ainda aguardam resposta.
Agora tem um novo governo dirigido por Andrés Manuel López Obrador, que quer escutar as famílias dos jovens e retomar as investigações. Porém nove meses depois ainda não se enxerga a luz da verdade. E a confiança, assim como a fé, vai enfraquecendo.
Em breve, terão se passado cinco anos desde aquela noite triste. Nesse ínterim, se manipularam provas, criaram-se falsas versões, brincaram com a dor de muitas famílias e mentiram para a sociedade.
É hora que o circo acabe e se revele o que foi que aconteceu exatamente. E se aqueles jovens estão mortos, como tudo indica, as famílias devem poder fechar o ciclo de luto e os culpados receber o castigo que merecem.