M.J. Arce
Nas eleições realizadas nestes dias no Uruguai também estava em jogo a possibilidade de uma reforma constitucional que colocasse em risco os direitos dos uruguaios, visto que traria de volta às ruas os militares.
Viver sem medo. Esse era o nome da proposta encaminhada pelo senador Jorge Larrañaga do conservador Partido Nacional sob o pretexto de diminuir os indicadores de delinquência. Porém, sua ideia só conseguiu atiçar o receio da volta dos militares.
A iniciativa pretendia dispor as batidas noturnas, o que é proibido desde a primeira Constituição de 1830, e a criação de uma Guarda Nacional, um corpo de segurança formado por uns 2.000 militares para ajudar a Polícia Nacional.
A possibilidade de reviver um passado triste, mas recente da história, fez com que a proposta fosse derrotada ao não reunir 50% dos votos necessários.
Dias antes das eleições, os uruguaios saíram às ruas defendendo o NÃO à reforma. Os analistas julgam que a ação foi promovida pensando, também, na complexa situação regional, levando em conta, em primeiro lugar, a grave crise que abala o Chile com protestos, toque de recolher, estado de exceção e militares espalhados pelo país todo.
É claro que não podemos esquecer as profundas marcas que deixou na sociedade uruguaia a ditadura que reinou naquela nação sul-americana de 1973 a 1985. Como se sabe, o Uruguai e outros países da região viveram anos de terror e crimes.
Hoje em dia, familiares dos quase 200 detidos que sumiram naqueles anos ainda continuam buscando seus seres queridos e exigem respostas e justiça para dar por concluída uma dolorosa etapa de suas vidas.
Continuam latejando na memória as torturas e os crimes cometidos pelos militares, amparados na declaração de estado de guerra interno e na promulgação da lei de segurança do Estado, que dava maior poder às Forças Armadas para reprimir.
Ganhou o NÃO, é verdade. Mesmo assim preocupa que tenha sido por uma estreita margem. É bom refletir sobre o que está se passando na sociedade uruguaia, sobretudo quando um sujeito como o ex-militar Guido Manini Rios, de tendência ultra direitista, conseguiu que seu recém-formado partido Cabildo Abierto obtivesse 11% dos votos e entrasse no Congresso.
O tema da segurança não esgotou, é uma preocupação dos uruguaios, porém, como mnifestara a Articulação Nacional NÃO à Reforma, não pode passar pela militarização, nem pela criminalização da pobreza.