Guillermo Alvarado
Fala-se muito em que a pandemia da Covid-19 poderia modificar os egoístas modelos econômicos e sociais reinantes na maior parte do mundo, porém tudo indica que são esperanças inúteis.
Pois bem, no meio da forte propagação da doença e tendo como perspectiva a pior recessão econômica dos últimos 90 anos, os países ricos estão buscando a maneira de se protegerem deixando abandonados à sua sorte os chamados países em desenvolvimento, isto é, pobres.
Serve como exemplo o assunto das vacinas contra a Covid-19 que poderiam acabar com a acelerada cadeia de contágios. Soube-se que vários países europeus fecharam contratos milionários com a empresa britânica AstraZeneca para agilizar as pesquisas que permitam lançar uma vacina no final do ano, ou começo do outro.
Os Estados Unidos em parceria com a firma Johnson & Johnson, também fez um oferta de 200 milhões de dólares a AstraZeneca, além dos que contratou com a francesa Sanofi, sempre pensando em dispor da vacina o mais rapidamente possível.
Mas não se animem, amigos. Este caso é bem diferente daquela generosa oferta da China que anunciou colocar à disposição do mundo uma eventual vacina, conceito humanitário que compartilha com Cuba que, por sua vez, não hesitou em disponibilizar seus avanços científicos e o pessoal qualificado ao combate à Covid-19.
Não estamos falando em investimentos feitos para salvar a humanidade, e sim a população dos países que realizam os investimentos.
A União Europeia quer garantir 400 milhões de doses para si, número quase similar ao de seus habitantes. Estados Unidos espera ter prioridade em tudo e pactuou com AstraZeneca para que os testes sejam feitos em 30 mil norte-americanos e depois lhe entreguem 300 milhões de vacinas.
Para o resto da humanidade, o panorama é sombrio. O Prêmio Nobel de Economia 2019 Michael Kremer afirmou que América Latina e outras regiões do mundo correm o risco de ficarem para trás na distribuição do imunizador.
Lembrou que estas vacinas vão beneficiar o mundo rico primeiro. Ao resto do mundo chegarão bem mais tarde.
Assim, às brechas da pobreza e a fome se adicionará a da imunidade, que estará alimentada não só pelas necessidades já conhecidas, mas também pelos inapropriados, às vezes inexistentes sistemas de proteção social que deixam fora a fatia da população que, para seus governantes, pareceria perfeitamente descartável.