Havana, 28 de outubro (RHC).- A Assembleia Geral da ONU aprovou nesta terça-feira uma resolução que pede o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro a Cuba, vigente há mais de 50 anos. O documento teve 188 votos a favor, dois contra (EUA e Israel) e três abstenções (Ilhas Marshall, Micronésia e Palau).
Ao apresentar o texto, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, recordou que esta foi a 23ª ocasião em que o assunto é abordado na Assembleia Geral da ONU, porque tem a ver com o direito internacional, garantia da independência, soberania nacional e igualdade entre as nações, além do desfrute dos direitos humanos pelas pessoas e povos.
“Nos reunimos numa conjuntura internacional muito peculiar, caracterizada por graves ameaças à paz e à segurança internacionais”, afirmou Rodríguez, e mencionou as guerras e atos terroristas de crueldade extrema, o número enorme de armas nucleares, as despesas insólitas em armamento e o impacto das mudanças climáticas. “Vivemos numa época marcada pela crise global sistêmica e a superposição de seus componentes econômico, alimentar, energético e hídrico”, indicou o chanceler cubano. E chamou a intensificar a colaboração internacional para enfrentar problemas como a epidemia de ebola na África, que poderia se estender pelo mundo.
“É um fato que no último período se intensificou o bloqueio econômico, comercial e financeiro dos EUA contra Cuba e também sua aplicação extraterritorial”, destacou Rodríguez ao falar na Assembleia Geral da ONU. Indicou que nos mais de 50 anos de vigência os prejuízos ultrapassam 1,1 trilhão de dólares, além dos danos humanos. Recordou que 77% da população cubana nasceu sob os efeitos do bloqueio norte-americano, que viola convenções internacionais como a de Genebra contra o genocídio, aprovada em 1948.
“São conhecidas as pesquisas de opinião que mostram o apoio crescente e majoritário de absolutamente todos os segmentos da sociedade norte-americana à suspensão do bloqueio e à normalização das relações bilaterais”, indicou o chanceler cubano. E sublinhou a opinião de figuras políticas das mais diversas tendências, acadêmicos, líderes religiosos e jornais como o “The New York Times”, em torno do fracasso dessa política hostil e as razões éticas e humanitárias que justificam uma mudança.
Rodríguez apontou que o bloqueio imposto por Washington no começo da década de 1960 prejudica também os próprios cidadãos e empresas norte-americanas, que são proibidos de viajar e de fazer todo tipo de negócio com Cuba. A emigração cubana também enfrenta dificuldades para manter os contatos com seus parentes que ficaram no país, afirmou o chanceler cubano.
“A decisão de eliminar o bloqueio seria bem-vinda em escala mundial, e seria uma influência unitária, em favor da paz e da solução pacífica dos conflitos e diferenças”, apontou Rodríguez, e ressaltou alguns progressos em áreas específicas, como o enfrentamento ao tráfico ilícito de drogas e ao crime internacional, a prevenção dos vazamentos de petróleo, a busca e salvamento de pessoas e a segurança aérea e da navegação marítima.
“Convidamos o governo dos EUA a uma relação mutuamente respeitosa, sobre bases recíprocas, baseada na igualdade soberana, os princípios do direito internacional e a Carta das Nações Unidas”, apontou o ministro cubano das Relações Exteriores. “Podemos encontrar solução às diferenças através do diálogo respeitoso e da cooperação em aspectos de interesse mútuo. Podemos viver e nos relacionar de maneira civilizada, dentro de nossas diferenças”, apontou.
Bruno Rodríguez deixou claro que Cuba não abrirá mão de sua soberania nem do caminho escolhido livremente pelo seu povo para construir um socialismo mais justo e eficiente, próspero e sustentável. Também não desistirá na busca de uma ordem internacional diferente nem deixará de lutar pelo equilíbrio do mundo, garantiu o chanceler cubano ao apresentar na Assembleia Geral da ONU o projeto de resolução intitulado: “Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA contra Cuba”.
O documento foi aprovado com 188 votos a favor, dois contra e três abstenções.