A organização humanitária argentina Avós da Praça de Maio anunciou recentemente ter achado o neto número 121 cujos pais foram assassinados pela ditadura militar em 1976 e, mais tarde, as crianças dadas em adoção a famílias por métodos irregulares. Assim aconteceu com centenas de crianças que nasceram nas prisões do regime repressivo e se tornaram negócio lucrativo para os militares.
Voltando ao neto número 121 encontrado, se trata do filho de Domingo Menna e Ana Maria Lanzilloto, dirigentes do Exército Revolucionário do Povo, seqüestrados em 19 de julho de 1976, quando a moça estava grávida de oito meses.
Sabe-se que Domingo foi torturado e assassinado. Esperaram que Ana Maria desse à luz; pegaram a criança e deram sumiço nela.
O descendente de ambos os combatentes pela liberdade, hoje com 40 anos de idade, se apresentou voluntariamente para o teste de DNA e o resultado foi positivo com relação aos seus verdadeiros pais. Descobriu, também, que tem um irmão mais velho que também sempre esteve à sua busca juntamente com a família.
A notícia chega num momento muito delicado, quando o governo direitista de Maurício Macri se prepara para reforçar os mecanismos de impunidade para favorecer os altos mandos do exército envolvidos na guerra suja, que deixou milhares de mortos e desaparecidos na Argentina.
A dirigente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, denunciou os intentos do executivo de apagar a memória histórica e demonizar as vítimas da repressão. Chamar nossos filhos de terroristas é uma ofensa muito grave, porque eles foram militantes, disse a líder humanitária em referência às declarações de Macri.
Asseverou que havia uma campanha para esquecer os desaparecidos e reclamou do presidente da República que se comprometa com as famílias que ainda, hoje em dia, continuam buscando seus queridos.
Em 24 de março de 1976, o exército argentino deu o golpe de Estado a instaurou um regime repressivo e ditatorial, que deixou saldo de mais de 30 mil pessoas desaparecidas de todas as idades e segmentos sociais.
Centenas de bebês foram capturadas juntamente com seus pais, ou nasceram enquanto suas mães estavam cativas em lugares tristemente recordados, como Campo de Mayo, Pozo de Banfield ou a Escuela de la Marina, que funcionaram como centros de detenção e tortura e, ao mesmo tempo, eram utilizados como maternidades clandestinas.
Muitos recém-nascidos foram entregues diretamente a famílias de militares e outros vendidos ou abandonados como não identificados, uma brutal violação dos direitos humanos mais elementares, e que agora o governo de Macri pretende enterrar, como se não tivesse acontecido.
Avós da Praça de Maio foi criado em 1977 com o propósito de localizar estas crianças e devolver-lhes sua verdadeira identidade, bem assim denunciar os que se viram envolvidos neste negócio sujo.
Sem dúvida, é um trabalho abnegado, não isento de riscos, sobre tudo nestes momentos quando um regime neoliberal pretende modificar a história e apagar uma das tragédias humanitárias que ainda enlutam os povos de nossa região.
(10 de outubro)