Opioides: armadilha das transnacionais farmacêuticas

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2019-08-27 11:42:11

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M.J. Arce

Nas últimas décadas, os EUA não só sofreram a violência decorrente da livre posse de armas de fogo, mas também um drama talvez menos visível que tem a ver com a indústria farmacêutica e tem ocasionado numerosas vítimas. É o caso dos opioides, que em 2017 levaram as autoridades norte-americanas a declarar uma emergência de saúde pública.

Tudo começou lá pela década de 1990, quando remédios destinados a doentes terminais e a enfermidades como o câncer passaram a ser promovidos pelas transnacionais como a solução ideal para todo tipo de dor.

Ao longo dos anos, os cofres dos laboratórios farmacêuticos se encheram de dólares. Enquanto isso, segundo estatísticas oficiais, desde 1999 cerca de 400 mil pessoas morreram nos EUA por causa de sobredoses de medicamentos baseados em substâncias narcóticas.

As companhias do setor nunca advertiram sobre o poder que tinham esses medicamentos de gerar dependência. Centenas de milhões de pessoas os consumiram durante anos sem ter conhecimento dos efeitos a longo prazo desses produtos, que eram vendidos como panaceia para todo tipo de dor crônica.

Contudo, a impunidade dos grandes consórcios começa a desabar. Numa decisão considerada histórica, um juiz de Oklahoma condenou a multinacional Johnson & Johnson a pagar mais de 500 milhões de dólares por ter incentivado o consumo dos analgésicos opiáceos. Só nesse estado norte-americano morreram seis mil pessoas que tinham se tornado dependentes deles.

O juiz considerou que a companhia tinha inundado as farmácias de Oklahoma com medicamentos desse tipo ao mesmo tempo em que minimizava os riscos de dependência, incentivando os médicos a receitá-los até para dores fracas. Para isso, levava adiante agressivas campanhas promocionais.

A Johnson & Johnson investiu enorme volume de dinheiro no pagamento de viagens, presentes, palestras e eventos para médicos e hospitais docentes que incentivavam seu uso. Essa empresa chegou a fornecer 60% dos ingredientes opiáceos utilizados pelos laboratórios fabricantes dos potentes analgésicos.

As informações indicam que o governo estadual vai destinar o montante da multa ao financiamento de tratamentos para os dependentes.

Hoje, nos EUA há mais de dois mil processos semelhantes em andamento contra fabricantes de opioides, distribuidores e farmácias que durante décadas lucraram às custas da saúde de milhões de pessoas. Em Cleveland, estão previstos vários julgamentos em outubro pelo ocultamento dos efeitos negativos a longo prazo desses produtos.

Cabe recordar que, hoje, o negócio dos remédios é um dos mais rentáveis do mundo, e inclusive alguns analistas o colocam acima da venda de armas.

Além de enganarem os pacientes, essas companhias muitas vezes negaram-se a baixar os preços para facilitar o atendimento durante emergências de saúde globais. A cura de enfermidades não é uma prioridade dos laboratórios, que obtêm mais lucro com as terapias, quanto mais longas melhor para seus cofres.

A revista “Forbes”, dirigida aos homens de negócios mais ricos do mundo, garante que em 2017 as transnacionais do setor ganharam mais de 700 bilhões de dólares com essa política.



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