Recordação oportuna

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2020-01-17 10:41:06

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Por Guillermo Alvarado

Diferentes países e instituições internacionais realizam preparativos para uma jornada de recordação de um dos maiores horrores ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial: o assassinato de milhões de seres humanos nos campos de concentração que a Alemanha nazista construiu em nações europeias.

A UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - informou das atividades que vão começar em sua sede, em Paris, em 22 de janeiro e finalizarão no dia 27 na Polônia, quando se completa o 75º aniversário da libertação pelo Exército Vermelho do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, em 1945.

Naquele lugar, os fascistas tinham concentrado 1,3 milhão de pessoas, das quais foram assassinadas 1,1 milhão, a maioria judeus, porém também havia entre as vítimas inúmeros poloneses, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e de outras nacionalidades.

Auschwitz-Birkenau é um símbolo do que significou para a humanidade o estabelecimento de um regime baseado no ódio, na superioridade xenófoba, no ódio irracional ao que for diferente, ou alheio ao credo absurdo de que se pode consolidar uma raça que domine eternamente o resto de nossa espécie.

Para lá do simbolismo, também é uma chamada de atenção sobre o ovo da serpente que incubou de novo e seu fruto de dentes afiados e mordida fatal percorre o mundo em nossos dias com modernas máscaras e discursos, em cujo fundo jazem as mesmas ideias com as quais Adolf Hitler envenenou o mundo e quase o destruiu.

Faz 75 anos, a comunidade internacional, horrorizada, soube do que tinha se passado em Auswwitz, Majdanek, Chelmno, Belzec, Sobibot, Treblinka, Buchenwald e Dachau, mas poucos vislumbram que isso mesmo está ocorrendo agora no Afeganistão, Faixa de Gaza, Iraque, Síria, Líbia e Iêmen.

Há pouca diferença entre as ideias de Hitler e as de Donald Trump que busca “tornar grande Estados Unidos de novo” oprimindo, ou suprimindo outros povos, ou quando fala dos imigrantes que tentam entrar em território norte-americano em busca de um sonho inexistente.

É pouca a diferença, também, entre Hitler que disse: “os direitos inerentes à liberdade individual se devem subordinar ao dever de defender a raça” e a presidente golpista boliviana, Jeanine Añez, que pediu a formação de uma frente para evita que “os selvagens”, os indígenas, voltassem ao poder.

Que outra coisa se passa no Chile, quase todos os dias, onde o presidente Sebastián Piñera e seus soldados e carabineiros desenterram sem pudor as ideias de Augusto Pinochet e se lançam contra o povo indefeso.

Para os que pensaram que fascismo morreu, vale recordar o último parágrafo do romance “A peste”, de Albert Camus, dirigido a uma multidão que celebrava o fim da epidemia bubônica, como o mundo comemorou a derrota dos nazistas e os fascistas.

Esse bacilo não morre nem some jamais, adverte; consegue permanecer dezenas de anos inerte nos móveis, e na roupa,esperar pacientemente nos quartos, mas virá o dia em que para a desgraça dos homens, a peste vai acordar seus ratos e mandá-los morrer entre uma cidade feliz.



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