Crime horroroso

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2020-06-10 12:19:34

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Por Guillermo Alvarado

Nestes dias em que se multiplicam os protestos contra a violência e o racismo em todo o mundo, na Guatemala acaba de ocorrer um crime horroroso motivado, também, pela discriminação e misturado com fanatismo e profunda ignorância que criaram raízes nessa sociedade faz séculos.

Os deploráveis acontecimentos se deram na aldeia de Chimay, do município de San Luis Petén, na relativamente isolada região norte do país centro-americano.

Pois bem, lá foi atacado e queimado vivo o pesquisador maia Domingo Choc por uma turba, que lhe imputava a prática de bruxaria.

Em 2024, serão comemorados os 500 anos de irrupção dos colonizadores europeus em território guatemalteco e com eles a ruptura da história de povos milenares e o começo de males nunca vistos nestas terras.

Pedro de Alvarado e seus homens vinham de destruir maravilhosas civilizações no atual México e queriam fazer a mesma coisa em novos territórios conquistados combinando cruz e espada.

A religião foi a justificação histórica da morte de centenas de milhares, talvez milhões de pessoas, para facilitar o roubo de suas riquezas naturais, como o ouro, a prata, terras férteis e mão de obra escravizada.

Como a melhor maneira de romper um corpo é quebrar a alma, primeiro, os conquistadores reduziram as ciências, os conhecimentos e as práticas desses povos ao conceito medieval de “feitiçaria”, adoração diabólica.

Os cultos se fizeram clandestinos, os Ajq’ij, seus guias espirituais, foram obrigados a se refugiarem nas montanhas para preservar suas religiões e a sabedoria maia se tornou suspeita.

Assim plantou nas mentes o brutal bispo Diego de Landa no povoado de Maní, Iucatã, onde, em 1562, queimou centenas de livros - os chamados códices, inscrições, objetos de culto e manuais científicos-  numa enorme fogueira que escurece até hoje a história.

Domingo Choc também foi queimado faz alguns dias por feiticeiro. Os credos infames, o racismo, continuam enraizados. Pouco importou que fosse um renomado cientista e pesquisador.

Colaborava com projetos de desenvolvimento com as universidades de Zurique, Suíça. University College London, da Inglaterra e com a Universidade do Vale da Guatemala. Ajudava, também, a redigir um livro sobre a ciência de ervas maia, segundo revelou a antropóloga e socióloga Monica Berger.

Não houve, nem penso que haja grandes manifestações contra este crime racista e de ódio. Para muitos, ele era apenas um “índio” feiticeiro. Em suas pequenas cabeças não imaginam todo o conhecimento perdido, toda a sabedoria acumulada nesse ser humano que não mereceu de jeito nenhum o destino que teve.

 

 

 



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