Méritos e deméritos

Editado por Irene Fait
2021-11-09 17:38:07

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Photo: Archivo/RHC

Por Guillermo Alvarado

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, torna a brigar, desta feita com uma parte da comunidade científica, que reagiu com justificado enfado contra uma nova arbitrariedade do presidente, habitualmente renhido com o  mundo das ideias e o pensamento.

Vejamos o que foi que aconteceu. Como se costuma fazer todos os anos, no Brasil, se divulgou a relação dos escolhidos para receber a Ordem Nacional ao Mérito Científico, um importante prêmio concedido pelo Estado para recompensar as mentes mais lúcidas e brilhantes nessa área.

Os nomes são escolhidos por renomadas instituições e enviados depois para sua aprovação aos ministérios das Relações Exteriores, Educação, Ciência e Tecnologia.

Pois bem, quando tudo estava acertado, Bolsonaro baixou um decreto riscando da lista os nomes de Marcus Vinicius Guimarães Lacerda e Adele Schwartz Benzaken, ambos da prestigiosa Fundação Oswaldo Cruz;

Trata-se de um vulgar ato de vingança, impróprio de um chefe de Estado, ou de qualquer pessoa decente, digna, de bom-senso.

Guimarães Lacerda foi um dos primeiros no mundo em provar que a cloroquina não tem nenhuma eficácia no tratamento da Covid-19, portanto, desmentiu um dos argumentos do presidente brasileiro, que tinha feito propaganda ao mencionado produto.

A doutora Schwartz Benzaken, especializada em AIDS, publicou uma cartilha com orientações à comunidade trans e homossexual, o que provocou o ódio de Bolsonaro, um confesso homófobo.

Esta absurda represália contra dois importantes acadêmicos fez com que 21 dos premiados divulgassem carta pública, na que renunciam à distinção e criticam a hostilidade aberta do mandatário ao setor cientifico.

Assinalam sua política negativista com relação à pandemia, e os cortes nas verbas destinadas à ciência e à tecnologia. Neste ano, só se liberaram 38 por cento das verbas, e em 2022 o orçamento será reduzido a menos da metade.

Na carta pública, afirmam categoricamente: a homenagem de um governo que não só ignora a ciência, mas também boicota ativamente as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva não é condizente com nossas trajetórias científicas.

Sem dúvida, os cientistas deram uma lição de ética que Jair Bolsonaro será incapaz de entender, porque ele é daqueles que pensam: “se a realidade não concordar com minhas ideias, tanto pior para ela”.



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