Direitos não muito direitos

Editado por Irene Fait
2021-12-07 18:17:25

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Estados Unidos gosta de se exibir como o país dos sonhos e dos direitos humanos e vai repartindo elogios e sanções a outras nações como árbitro implacável, a despeito de ser um dos que menos convenções internacionais sobre o tema assinou ou ratificou em todo o planeta.

Por exemplo, não faz parte das Convenções sobre os Direitos da Criança, nem da Eliminação de Qualquer tipo de Discriminação contra a Mulher, não reconhece a Corte Penal Internacional, nem a proibição das munições de racimo.

É vergonhoso que no país mais rico do mundo perto de 12 milhões de menores vivam em condições de pobreza, sofram de desnutrição, devam trabalhar e abandonem os estudos.

Uma de 10 crianças não tem seguro médico, e nas minorias étnicas um quarto de menores não recebe programa completo de vacinas e todos, sem exceção, vivem em ambiente poluído.

Cada pessoa naquele país produz, em média, 19 toneladas de dióxido de carbono ao ano, o que provoca sérios efeitos na saúde humana e na natureza.

Nada ilustra melhor a maneira contraditória em que lá se aplicam conceitos de direitos humanos do que alguns fatos ocorridos no mês passado.

A 19 de novembro, um júri absolveu o jovem branco Kyle Rittenhouse quem, em agosto de 2020, quando tinha 17 anos, atirou com um fuzil de caça contra um grupo de manifestantes, matou duas pessoas e feriu uma terceira.

Segundo o tribunal, o garoto tinha agido em legitima defesa, apesar de ter viajado quase 30 quilômetros para cometer o crime, mas o pior não é isso.

O ex-presidente Donald Trump recebeu-o com honrarias, e a representante republicana pelo estado de Georgia, Marjorie Taylor Greene, entregou um projeto para que lhe concedessem a Medalha do Congresso, uma condecoração reservada a personalidades notáveis.

Já o menino Ethan Crumbley, 15 anos, entrou em 30 de novembro numa escola de Michigan com um revolver e matou quatro colegas provocando feridas em outros seis, uma professora inclusive.

Foi indiciado por terrorismo e será julgado como adulto. Pela convenção dos Direitos da Criança um menor não pode ser julgado como adulto.

Por que a diferença de tratamento nestes dois casos? Muito simples. Rittenhouse atirou contra membros da organização Black Lives Matter. A vida dos Negros Importa, por isso é quase um herói nacional.

Crumbley, em troca, matou outras crianças brancas na Oxford High School e por isso é um terrorista. O que não se questiona é que ambos tiveram facilidade total de conseguir armas de fogo e descarregar os ódios, as frustrações e os temores que um sistema perverso incute neles cada instante.

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