Semente malograda

Editado por Irene Fait
2022-07-25 18:18:04

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Em Cite Soleil mais de 20% das crianças estão gravemente desnutridas. Foto / AFP

Por Guillermo Alvarado

O Haiti poderia deixar de ser um país em breve e transformar-se em território partido em pedaços por quadrilhas armadas, que impõem suas leis em uma determinada zona e brigam entre si pelo controle de bairros e seus moradores.

Este é o resultado de séculos de intervenção estrangeira, de abusos cometidos pelas potências, grandes consórcios empresariais e não poucas organizações das conhecidas como ONGs, que impediram o desenvolvimento de uma nação sólida, soberana e independente.

As coisas começaram a sair mal depois do terremoto de janeiro de 2010, que pôs em evidência a fraqueza das instituições locais. A situação tornou-se crítica em julho do ano passado, quando assassinaram o presidente Jovenel Moise.

Desde então, essa nação está praticamente descabeçada e falharam todas as tentativas de formar um governo capaz de estabelecer a ordem e acabar com as quadrilhas.

A situação é dramática. O país ocupa o 8º lugar no mundo quanto à insegurança alimentar; 22 por cento dos meninos e meninas padecem desnutrição crítica e diferentes tipos de desamparo.

No fim da semana passada, no bairro Cité Soleil, talvez o mais pobre dos pobres, ocorreu uma coisa muito peculiar: 315 crianças e alguns adultos entraram numa escola fugindo dos habituais tiroteios que ocorrem naquele lugar.

Na semana passada, os enfrentamentos entre quadrilhas provocaram 300 mortos na capital do Haiti, que virou terra de ninguém.

As crianças, muitas não sabem ao certo se seus pais estão vivos ou mortos, ou onde estão, transformaram a escola, que estava fechada pelas férias, num acampamento improvisado.

Naquele país ninguém está passando bem, Por sinal, o Haiti está sendo cercado pela República Dominicana. É claro que as crianças são as que mais sofrem.

A crise econômica e a violência fazem com que sejam alvos fáceis do crime organizado para a exploração sexual ou de trabalho. Muitas meninas são obrigadas a casamentos arranjados, a gravidez não desejada, ou são violadas; acabam caindo em redes das quais não podem sair.

Como ocorre em outras tragédias, na Palestina, Mianmar ou Líbia, a comunidade internacional olha para o outro lado, finge que não vê, não percebe que esse comportamento passivo faz com que seja cúmplice dessa infâmia toda.

 



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