Uruguai não esquece as vítimas da ditadura militar

Editado por Irene Fait
2023-06-27 17:06:43

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Por Maria Josefina Arce

Uruguai homenageou terça-feira as vítimas da ditadura militar que se estabeleceu no país em 27 de junho de 1973, quando à época presidente Juan Maria Bordaberry, do Partido Colorado, dissolveu o Parlamento com o apoio das forças militares e policiais.

Ao longo de doze anos, o país viveu uma das etapas mais obscuras de sua história, durante a qual foram perseguidas com sanha as organizações políticas, sociais e sindicais.

Detenções, encarceramentos prolongados, torturas, desaparecimentos à força e o exílio eram práticas corriqueiras. Estima-se que quase 14% da população uruguaia se viram obrigados a abandonar o país.

Todavia, sair do Uruguai não era garantia de salvação. A coordenação repressiva entre as ditaduras das nações sul-americanas, o chamado  “Plano Condor” permitiu que a repressão e a perseguição ultrapassassem as fronteiras.

Muitos uruguaios foram detidos, desaparecidos e assassinados na Argentina, Chile e Paraguai.

De meados da década de 1970 até os anos 1980, essa associação ilícita funcionou para perseguir e eliminar militantes políticos, sociais, sindicais e estudantes do Cone Sul.

Documentos secretos publicados revelaram que o plano de extermínio deixou dezenas de milhares de assassinados e desaparecidos. Vale recordar que o plano contou com o apoio dos serviços de inteligência dos Estados Unidos.

No Uruguai, mais de 31 mil pessoas foram vítimas diretas da ditadura militar. As famílias tiveram de percorrer um longo caminho para que os responsáveis por esses crimes de lesa humanidade fossem levados perante a justiça.

 Durante décadas, os processos judiciais estiveram paralisados pela chamada Lei de Caducidade, que impedia processar os militares pelas violações dos direitos humanos.

Essa ignominiosa legislação, aprovada em 1986, foi declarada inconstitucional em 2009 e, finalmente, anulada em 2011.

A verdade é que muitos responsáveis pelas mortes, sequestros, torturas e desaparecimentos à força permanecem livres e ainda não há informação veraz sobre os perto de 200 desaparecidos.

Os uruguaios continuam buscando a justiça e a verdade. Há mães, pais, irmãos e amigos que, depois de tantos anos, não desistem da busca de seus seres queridos, que, como expressara o comprometido intelectual Mario Benedetti no seu poema Desaparecidos: “Estão em algum lugar/concertados, desconcertados/surdos, buscando-se/buscando-nos…”



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