Pescadores peruanos
Por María Josefina Arce
Milhares de peruanos continuam sem acesso ao seu meio de subsistência, a pesca, dois anos depois do vazamento de petróleo causado pela multinacional espanhola REPSOL na costa do distrito de Ventanilla, na província de Callao, considerado o maior desastre ecológico da história do país andino.
O vazamento de cerca de 12.000 barris de petróleo ocorreu em 15 de janeiro de 2022, quando o petroleiro “Mare Doricum”, de bandeira italiana, descarregava petróleo cru na refinaria de La Pampilla, 30 km ao norte de Lima.
A REPSOL tentou se eximir de sua responsabilidade e associou o fato a fortes ondas após a erupção de um vulcão em Tonga, mas os moradores da área negaram qualquer anomalia no mar.
A verdade é que, como veio à tona mais tarde, o evento foi causado por uma avaria no oleoduto submarino durante o descarregamento.
Cobrindo uma área rica em biodiversidade e habitats frágeis, o vazamento resultou na perda de 1.850 espécies de fauna selvagem, algumas consideradas ameaçadas de extinção.
De acordo com um relatório recente da organização peruana CooperAcción, os pescadores estão perdendo mais de US$ 3.100 por mês devido à contaminação das águas.
Ocorre que não só a pesca que foi afetada, mas também outra atividade econômica fundamental para a área: o turismo. Umas 25 praias ainda estão fechadas devido ao grau de poluição.
Dois anos depois, portanto, muitas perguntas continuam sem resposta. Não se sabe quanto tempo será necessário para recuperar as áreas afetadas, nem o estado do fundo do mar, as famílias prejudicadas não foram indenizadas e o governo da presidente Dina Boluarte não se esforçou para ajudar as vítimas.
A REPSOL tem sido alvo de inúmeras críticas por sua irresponsabilidade e falta de uma resposta abrangente e adequada a essa crise do meio ambiente.
Os moradores da área vêm denunciando que a multinacional fez mera limpeza superficial, sem levar em conta a necessária reabilitação de habitats e o repovoamento de espécies.
O vazamento de petróleo na costa do Peru trouxe à tona um problema antigo, que infelizmente ainda existe em todo o mundo: a irresponsabilidade das transnacionais em relação ao meio ambiente.
Poluição do ar, da água e do solo, danos à flora e à fauna e à saúde dos habitantes nos lugares onde operam são alguns dos danos causados pelas ações dessas empresas no mundo, que já está passando por uma crise ambiental.
Contudo, como apontam os especialistas, a justiça não chega com a rapidez necessária, ou não se aplica com força quando grandes empresas estão envolvidas em catástrofes ambientais e violações de direitos humanos.