Crimes sob ditadura

Editado por Irene Fait
2024-03-04 12:10:19

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Filhos de Mães do Silêncio

Por Guillermo Alvarado

A ditadura militar no Chile, liderada pelo General Augusto Pinochet, que governou o país sul-americano a sangue e fogo entre 1973 e 1990, além da prática diária do terrorismo de Estado contra a população, é culpada de outros crimes horrendos pouco conhecidos.

Embora existam alguns registros de casos a partir da década de 1960, foi após o sangrento golpe de Estado contra o presidente da Unidade Popular, Salvador Allende, que as adoções ilegais de crianças nascidas em hospitais públicos se aceleraram.

Não estamos falando em que os pais dos bebês tivessem decidido voluntariamente entregá-los a famílias norte-americanas ou europeias, longe disso. Em verdade, trata-se do sequestro de crianças recém-nascidas de mães pobres ou com baixo nível de escolaridade.

Sara Emilia Díaz, uma das mulheres que teve seu bebê roubado, contou que ela tinha ido ao hospital Barros Luco, na capital, para dar à luz seu primeiro filho quando mal completara 16 anos de idade.

Após o parto, foi informada de que o bebê havia nascido morto e recebeu um sedativo forte para mantê-la dormindo até o dia seguinte.

Quando reivindicou o corpo do filho para o enterro, foi informada de que ele havia sido destinado para fazer estudos e, quando insistiu, "alguém" a aconselhou a não perguntar mais nada "porque isso poderia prejudicá-la muito". Era 1974 e os crimes de Estado estavam na ordem do dia.

A esperança voltou a tomar conta de Sara Emilia quando conheceu o grupo Filhos e Mães o Silêncio (HMS suas siglas em espanhol), que em uma década conseguiu identificar, sem nenhuma ajuda do Estado, mais de 300 crianças que haviam sido roubadas e entregues para adoção irregular.

De acordo com as estimativas das organizações criadas para investigar esses fatos, cerca de 20.000 crianças foram roubadas durante o regime de Pinochet e entregues a famílias estrangeiras em troca de muito dinheiro.

Diversos membros do governo golpista ou seus parentes, bem como médicos, enfermeiras, clérigos e advogados, estavam envolvidos nessa operação obscura.

O Ministro da Justiça do Chile, Luis Cordero, reconheceu que nos últimos 50 anos nenhum governo havia enfrentado esse desafio e somente agora estão sendo criados mecanismos legais e tecnológicos para encontrar o paradeiro de crianças roubadas de seus pais verdadeiros.

 Uma novidade nesse sentido é o uso de inteligência artificial para tentar obter uma imagem atual dos bebês roubados com base no material genético de seus pais, mas a tarefa será lenta e complicada.



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