Ao longo da história, as relações dos EUA com a América Latina estiveram marcadas por sua ingerência nos assuntos internos dos países da região, e pelas pressões para que os governos aderissem a seus pontos de vista.
As autoridades norte-americanas não só apelaram para intervenções diretas, inclusive de caráter militar, mas também a mecanismos criados para defender seus interesses. É o caso do chamado TIAR, Tratado Interamericano de Defesa Recíproca.
O acordo surgiu em setembro de 1947, sob o argumento de que um ataque contra algum país do bloco regional seria considerado uma agressão a todos os membros.
Contudo, esse propósito ficou apenas no papel. O interesse real dos EUA era contrabalançar o avanço das ideias progressistas e comunistas no continente e garantir uma ampla margem de manobra para justificar suas intervenções armadas.
Recentemente, o presidente do Equador, Rafael Correa, denunciou esse fato comprovado, e a Assembleia Nacional deu início aos trâmites para a retirada do país desse tratado. Considera-se que após o fim da chamada Guerra Fria já não estão presentes as condições políticas e históricas que determinaram a assinatura do documento.
Em junho de 2012 o Equador já anunciara sua decisão de abandonar o TIAR durante a cúpula da OEA, Organização de Estados Americanos, realizada na cidade boliviana de Cochabamba.
Naquela ocasião, o chanceler Ricardo Patiño anunciou que o Equador, Bolívia, Nicarágua e Venezuela tinham assumido essa postura por considerar que o Tratado tinha perdido legitimidade depois da Guerra das Malvinas.
Patiño recordou que quando a Grã-Bretanha invadiu as Ilhas Malvinas, que tinham sido retomadas pela Argentina, os EUA apoiaram essa operação sem levar em conta os princípios do TIAR de defesa mútua contra toda agressão extraterritorial.
Anos antes, em 1961, o acordo também não foi ativado quando Cuba foi vítima de uma invasão militar mercenária pela Baía dos Porcos, organizada, financiada e apoiada logisticamente pelos EUA. Situação semelhante ocorreu quando a República Dominicana, Nicarágua e Panamá foram invadidos por tropas norte-americanas sob vários pretextos.
A realidade atual no continente exige o fim de mecanismos como esse, utilizados ao longo dos anos pelos EUA para garantir seus interesses na região. Chegou a hora de enterrar o obsoleto TIAR e fortalecer a vontade de integração da América Latina e o Caribe.
(M.J. Arce, 14 de janeiro)