Os recentes acontecimentos na região de Catatumbo, na Colômbia, onde centenas de camponeses tiveram de fugir ante as ameaças de grupos armados irregulares, mostram os desafios que esse país deve superar para alcançar paz firme e duradoura.
Seguindo o caminho pautado pelos acordos assinados com as Farc, milhares de efetivos dessa organização guerrilheira começaram a abandonar os territórios que controlavam para se concentrarem nos pontos onde se realizará a entrega das armas.
Porém, mal tinham saído os rebeldes de suas áreas, entraram grupos paramilitares que pretendem aproveitar o vazio de poder em diferentes lugares para impor sua força aterrorizando a população local para subjugá-la.
Autoridades venezuelanas confirmaram que não menos de 400 colombianos cruzaram a fronteira em busca de refúgio. Na Venezuela, foram acolhidos, receberam serviços médicos, alimentos e segurança. Ao mesmo tempo, se pediu à comunidade internacional e à ONU rápida intervenção para evitar crise humanitária de grandes proporções se os deslocamentos em massa continuarem.
Grupos sociais colombianos denunciaram que a entrada dos paramilitares nas zonas que abandonam as Farc viola abertamente os direitos humanos da população rural.
“Homens armados com insígnias de águias intimidam camponeses nos arredores das zonas de concentração das Farc”, adverte em comunicado a organização social Voces de Paz, que integra mecanismo tripartite de verificação dos acordos entre o grupo insurgente e o governo da Colômbia.
O ministério da Defesa enviou às pressas uns 1.200 soldados à região de Catatumbo, mas reagiu tarde ante um problema que evidentemente ia surgir.
Sempre se falou que a paz verdadeira na Colômbia não só passa por acordos sólidos com as organizações insurgentes, mas também é indispensável erradicar o paramilitarismo, que cresceu durante o enfrentamento.
Se não cortarem o poder dos grupos do crime organizado pela raiz, ou seja, o narcotráfico, o tráfico de pessoas ou o mercado negro de armas, não se avançará muito.
Contra a paz também atentam as bases militares dos EUA na Colômbia, cujo pessoal não está sujeito à jurisdição das leis colombianas, o que representa um buraco na soberania nacional.
O trajeto rumo à concórdia e à reconciliação é longo e pedregoso e é preciso admitir que há forças que não querem o fim do conflito, porque para elas a guerra constitui uma fonte de riqueza e poder. Não se importam com o sangue inocente que isso possa custar.