Por Guillermo Alvarado
O novo governo da França despertou ilusões em organizações ambientalistas dentro e fora do país ao anunciar seu propósito de aplicar um programa de reconversão energética. Este programa poderia implicar o fechamento de 17 reatores nucleares de um total de 58 instalados em território continental.
França é o segundo país com maior número de usinas atômicas logo atrás dos EUA. E é o primeiro quanto à produção de eletricidade por meio da fusão nuclear, com cerca de 75%.
Embora seja uma indústria relativamente limpa com relação à emissão de gases poluentes à atmosfera, gera graves preocupações, porque um acidente tem potenciais efeitos devastadores, como ficou provado em Chernobil. Além disso, é preciso resolver o espinhoso tema do manejo de resíduos, que continuam soltando radiações durante centenas, talvez milhares de anos depois de utilizados.
O anúncio feito pelo ministro para a Transição Ecológica, Nicolás Hulot, dista muito de ser um assunto meramente tecnológico ou econômico. Suas implicações alcançam inclusive dimensões geopolíticas a serem levadas em conta.
Muitas vezes na França e noutros países questionam, por exemplo, a presença militar dessa nação na África, em lugares onde há consideráveis reservas de urânio. Severas críticas recebe a empresa AREVA, encarregada da gestão nuclear francesa, pelos métodos que utiliza na exploração e extração desse minérios em nações que foram antigas colônias e guardam dependência da ex-metrópole.
A reconversão energética não é um tema novo. Esteve presente na campanha eleitoral do ex-presidente François Hollande, que, depois de eleito, só conseguiu promulgar uma lei que prevê cortar pela metade a dependência do átomo para a geração de eletricidade até 2025.
Agora, o executivo de Enmanuel Macron retoma o desafio num caminho provavelmente longo e pedregoso, mas que obrigatoriamente deve encarar, e não só por compromisso, o cuidado do meio ambiente e a luta contra o aquecimento global.
Os 17 reatores que serão fechados fazem parte dos 23 que vão completar 40 anos em breve, vida limite a não ser que recebam considerável investimento para prolongar uma década ou duas seu trabalho em condições seguras.
O governo francês deve decidir o que vai fazer: se gasta os 45 bilhões de euros necessários para manter a tecnologia nuclear, ou investir nas chamadas energias limpas, como a eólica e a solar que, por enquanto, não conseguem substituir a gerada nas usinas nucleares. Assim, para além de uma questão de vontade, é questão de tempo.
Há, também, poderosos interesses em torno do tema atômico, que abrange não só os 58 reatores, mais um em obras, congregados em 19 usinas, mas também 2.500 empresas de diferentes tipos ligadas a essa área que geram uns 400 mil postos de trabalho.
França não renunciará a ser uma potência nuclear. Hoje focalizamos o tema civil, mas vale recordar que é a terceira força no planeta do ponto de vista militar, o que não é farinha de outro saco, digam o que quiserem.