O povo do México, em meio ao luto pelas mais de 330 vítimas do terremoto que sacudiu a porção central do país em 19 de setembro passado, tornou a reclamar do governo do presidente Enrique Peña Nieto que acabe de esclarecer o destino de 43 estudantes do município de Ayotzinapa, no estado de Guerrero, que levam três anos desaparecidos sem uma explicação oficial convincente.
Nos dias 26 e 27 de setembro de 2014 à noite, um grupo de estudantes de uma escola normal viajou à cidade de Iguala para participar de uma marcha que pedia melhores condições para os professores, mas no trajeto foram interceptados por policiais municipais, que os detiveram à força.
Alguns dos jovens morreram lá mesmo, outros receberam ferimentos e 43 foram sequestrados pelas autoridades e sumiram, ninguém sabe o que foi feito deles, apesar do esforço de seus familiares acompanhados por organizações sociais e humanitárias mexicanas e internacionais.
No começo, os aparatos da justiça propalaram a chamada “verdade histórica”: que os estudantes foram entregues a uma quadrilha de malfeitores, das que atuam nessa região, que teria executado e queimado seus corpos num aterro sanitário até reduzi-los a cinzas, que foram jogadas depois num rio.
Investigadores independentes demonstraram que está hipótese é irracional, porquanto não havia gasolina suficiente para calcinar 43 corpos totalmente.
Depoimentos de habitantes locais assinalam que naqueles dias tinha chovido muito, o que faz com seja menos convincente a hipótese oficial.
Os pais e parentes dos 43 de Ayotzinapa estão desconfiados de que o exército não permitiu que fosse investigado um quartel próximo, onde, segundo denúncias, pelo menos uma parte dos membros do grupos esteve retido durante alguns dias.
Chama a atenção, também, que muitos celulares das vítimas continuaram ativos vários dias depois da presumível incineração.
As autoridades locais e federais estão protelando o assunto e as escassas reuniões que os familiares sustentaram com o presidente Peña Nieto não passaram de promessas, mas não fizeram nada.
O crime se insere na extraordinária violência que flagela o país desde que o ex-presidente Felipe Calderón cedeu às pressões dos Estados Unidos para travar em seu território a guerra contra os bandos de narcotráfico que introduzem entorpecentes nos Estados Unidos, onde está o maior mercado do mundo, mas onde nunca se escuta a detenção de nenhum barão da droga, ou desmantelamento de uma mafia.
Nos Estados Unidos se consomem as drogas e se lava o dinheiro de uma atividade criminosa que mancha com sangue os países latino-americanos, os quais, são ameaçados por Washington de perderem seu certificado de luta contra o tráfico de drogas, o que equivaleria reduzir a ajuda econômica. Isto seria risível se não fosse um assunto tão grave para nossos povos.(Guillermo Alvarado)