Durante séculos, a cólera foi uma das pragas que dizimou a humanidade e as pessoas quando escutavam essa palavra. Apesar de a doença ter sido controlada há mais de 100 anos, continua sendo um flagelo mortal para milhões de pessoas, principalmente para aquelas que vivem em condições precárias.
Este mal guarda relação com a falta de higiene e água não tratada, mas se deve principalmente à miséria em que vive mergulhada boa parte do planeta.
Um relatório apresentado nesta semana pelo Grupo Global para o Controle da Cólera, entidade formada por várias agências da ONU e organizações não governamentais, assinala que a cada ano três milhões de seres humanos se contagiam com a bactéria que causa a doença e pelos 95 mil morrem.
Isto constitui um dos paradoxos do mundo atual, porque seu tratamento é relativamente simples e barato: basta a aplicação de sais de reidratação oral quando é descoberta em tempo, ou doses moderadas de antibióticos se o caso for complicado.
A elevada letalidade da doença guarda relação com o mapa da pobreza extrema, especialmente com aquela provocada por conflitos armados que fazem com que grandes massas humanas saíam às ruas, e por catástrofes naturais, avisou o Grupo Global.
Após o terremoto que devastou o Haiti em 2010, a epidemia de cólera afetou até agora mais de um milhão de habitantes e dez mil morreram.
Na Somália, e na República Democrática do Congo pereceram 1.300 pessoas. Já no Iêmen, submetido a uma brutal guerra por uma coalizão encabeçada pela Arábia Saudita e apoiada pelos EUA, se estima em 900 mil os casos detectados e mais de dois mil os mortos. Até o final do ano, o número de contagiados poderá atingir um milhão, advertiu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
No Iêmen, o conflito armado destruiu praticamente toda a infraestrutura de saúde, não há água tratada e o trabalho das organizações humanitárias é barrado pelos enfrentamentos. Nesse país foi descoberto um extraordinário nível de contágio que está provocando uma das maiores epidemias do mundo.
Outro foco de preocupação para a Organização Mundial da Saúde está nos miseráveis acampamentos onde se congregam mais de 400 mil membros da comunidade dos rohingyas em Bangladesh, que fogem da repressão de que são vítimas na Birmânia.
Lá se descobriu em dias recentes um surto de diarreia agudas, um dos sintomas da cólera, e os poucos ativistas que trabalham naquele lugar estão tentando identificar e isolar os casos antes de que se desate uma emergência sanitária.
Um dos objetivos da comunidade internacional é que para 2030 a cólera seja eliminada em 20 dos 47 países concernidos, e controlar a doença no resto, porém a condição indispensável é resolver a pobreza extrema e os prejuízos provocados pela guerra e a intolerância à humanidade em pleno século 21.(Guillermo Alvarado)