Por Guillermo Alvarado
Uma onda de frio siberiano está castigando quase todos os países europeus. A morte de 20 pessoas colocou o dedo numa das feridas mais dolorosas na Europa, que faz parte do chamado mundo desenvolvido, mesmo assim não consegue resolver o problema dos sem-teto que vivem nas ruas das grandes cidades.
As imagens são insólitas: as ruas de Roma, capital da Itália, foram entapetadas de branco; a baía de Ajaccio, na ilha francesa de Córcega, coberta de neve, o que não ocorria nos últimos 30 anos.
Por trás dos cartões postais, está o sofrimento de milhares de homens, mulheres e crianças que carecem do direito básico de moradia e pernoitam nas calçadas, numa ponte ou nos parques.
As vítimas da onda de frio polar que castiga a Europa do Báltico ao Mediterrâneo pertencem, é claro, a esse segmento.
Entre os mortos há nove na Polônia – cinco deles morreram de hipotermia terça-feira de madrugada -. Na França, três pessoas “sem domicílio fixo”, como classifica o governo os que carecem de teto – morreram por conta da fúria invernal. As outras mortes ocorreram na Romênia, Itália e Lituânia, onde o denominador comum de todos era a indigência.
A pobreza extrema em cidades formosas como Roma e Paris, por exemplo, é difícil de ver. Porém, um observador atento percebe que essas cidades mudam de fisionomia à noite, quando os túneis do metrô começam a ser povoados pelos que pretendem passar a noite abrigados.
Outros se aproximam dos albergues para conseguir uma cama e um prato de sopa quente. Não há lugar para todos, portanto, muitos devem pernoitar nas ruas, onde, nas noites frias, organizações humanitárias distribuem alimentos para aliviar a situação.
Os números falam por si. O governo francês admitiu que, para evitar tragédias durante estes dias gélidos, foram habilitadas 5.344 vagas adicionais nos lugares de acolhida dos sem-teto, que em todo o país são, ao todo, 145mil.
Paris está passando as noites com temperaturas recordes de 12 graus negativos, enquanto que no norte do país se medem 20 graus negativos.
Na Bélgica, o termômetro baixou a 10 graus. Na Suíça foram 27,3 graus negativos. Já na Itália, abriram três estações de metrô e uma de trem à noite, para proteger os desabrigados. Na Alemanha, registraram 20 graus negativos e os sem-teto lotaram os pontos de acolhida em Berlim. Esta situação se repetiu na Holanda e no Reino Unido.
Frio glacial no inverno, calor excessivo e incêndios no verão. O clima está mostrando em todos os cantos do mundo que já mudou e os recordes históricos são quebrados com tanta frequência que, em breve, deixarão de ser novidade e farão parte do dia a dia numa vida que teimamos em arruinar com entusiasmo digno de melhor causa.