Por: Guillermo Alvarado
Sempre é suspeita a pressa excessiva em assuntos sérios e delicados. Estamos falando concretamente dos presidentes dos Estados Unidos Donald Trump, e do México Enrique Peña Nieto, que acabam de anunciar um acordo comercial e querem assiná-lo o mais rapidamente possível, mesmo se Canadá ficar fora do negócio.
Chama poderosamente a atenção o seguinte: durante meses não progrediram as negociações, houve até recuos, e, de repente, tudo se acelera e as duas partes acham que tal acordo beneficia todos, o que não se corresponde com a realidade se levarmos em conta certos antecedentes.
O pacto anterior, denominado Tratado de Livre Comércio da América do Norte, que entrara em vigor a 1o de janeiro de 1994, arruinou boa parte da população mexicana, especialmente os pequenos agricultores.
Prova disso é que hoje em dia 35 por cento do consumo de milho, o alimento principal nessa nação, provêm de importações. Vale lembrar que vinte anos atrás essa taxa era de apenas dois porcento. Há outros cultivos que simplesmente sumiram.
O que se sabe por enquanto do novo acordo entre Estados Unidos e México é que este último país não obteve vantagens para sua agroindústria, uma área que continuará sendo aproveitada pelos poderosos fazendeiros norte-americanos que, apesar das queixas de Donald Trump, inundam o mercado mexicano com seus produtos e arruínam os agricultores locais.
Outro fator de risco para o México é que o Canadá, finalmente, não queira aceitar as condições de Washington, o que significaria a morte do pacto trilateral e deixaria o México sozinho diante de uma economia muito mais desenvolvida que a sua. Até agora o Canadá tem sido uma espécie de amortecedor ante as enormes disparidades que existem entre os outros dois parceiros.
De qualquer maneira, convém explicar por quê Peña Nieto e Trump têm pressa para formalizar o tratado anunciado nestes dias.
O presidente mexicano apresenta o fato como uma vitória sua e, naturalmente, quer assinar o documento antes de 1o de dezembro, data em que assume a presidência Manuel López Obrador.
A pressa de Trump é outra: em 6 de novembro ocorrerão as chamadas eleições de meio tempo nos Estados Unidos, quando a Câmara de Representantes será totalmente renovada e um terço do Senado e não é absurdo pensar que o partido Democrata possa assumir o controle de ao menos uma delas.
Isso significaria um obstáculo para a ratificação do acordo, bilateral ou trilateral, e roubaria um dos poucos êxitos que Trump pudesse exibir em seu acidentado governo, repleto de fiascos e decisões controversas.
Como podemos ver, não contam os interesses dos povos mexicano e norte-americano, reféns das ambições políticas de seus governantes e se ratifica aquilo que tantas vezes se repete: “pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.