Por: Guillermo Alvarado
Mais uma vez, a fúria da natureza fez com que o mundo olhasse brevemente para o país mais pobre do mundo, o Haiti, que foi estremecido por um tremor de terra de 5.9 graus com saldo de ao menos 15 mortos, centenas de feridos e consideráveis prejuízos na precária infraestrutura do país.
O Haiti divide com a República Dominicana a ilha de Espanhola, a segunda depois de Cuba em tamanho no Caribe. Embora compartilhem o mesmo território, parecem dois mundos totalmente diferentes. È verdade que ambas as nações pertencem ao chamado Terceiro Mundo, mas as diferenças são abismais.
A sede da primeira revolução de escravos no mundo, o Haiti, parece viver vários séculos atrás, mergulhada numa pobreza que não foi criada pelos seus habitantes e sim pelas potências colonialistas do passado, e as imperialistas de nossos dias.
Após sua independência em 1804, foi submetida ao pagamento de uma injusta compensação à França, que se estendeu até a Segunda Guerra Mundial sendo a causa de seu ínfimo desenvolvimento ao que se deve adicionar a corrupção dos governantes mimados pelas antigas metrópoles como a dinastia dos Duvalier.
Do Haiti, os países ricos só se lembravam quando precisavam derrubar um governo, invadir ou bloquear, saquear alguns de seus escassos recursos naturais, ou quando acontecia um dos desastres comuns que agravam sua miséria.
Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7,3 graus na escala de Richter matou 350 mil haitianos demonstrando que a miséria é a melhor aliada da morte.
Com a desgraça vieram as luzes dos holofotes, os discursos, as promessas, mas tudo durou pouco, talvez um pouco mais do que tardam de esfriar as manchetes nos jornais.
Uma grave epidemia de cólera atraiu a atenção para o empobrecido país, mas só um pouquinho, e a vida continuou como se nada tivesse acontecido. Só os médicos cubanos ficaram lá, aliás já estavam antes do tremor de terra e não foram embora com os demais.
O abalo sísmico de domingo passado flagrou os médicos junto aos haitianos e, como naquele janeiro de 2010, a ajuda começou a ser prestada imediatamente aos necessitados e mais reforços chegaram em poucas horas.
Enquanto isso, a maioria dos países permanece indiferente ao que se passa no Haiti, ao drama dos rohingyas, o holocausto palestino e à tragédia de milhares de imigrantes que cruzam o mar Mediterrâneo para esbarrar no muro da xenofobia e o racismo.
Acontece que no mundo dos desenvolvidos não há espaço para as tragédias dos pequenos, que se devem levantar por si mesmos, com seus próprios e escassos meios ou com a solidariedade de alguns povos, como os cubanos, que aprenderam que não se compartilha o que sobra, e sim aquilo que a gente tem.