M.J. Arce, 3 de junho
Os salvadorenhos estão à expectativa depois da posse do novo Presidente, o jovem empresário Nayib Bukele, que se apoiou nas redes sociais para conquistar o apoio dos eleitores na votação de fevereiro passado.
Bukele ganhou com 53% de respaldo nas urnas. Porém, tem dado poucos sinais do que fará durante seu mandato. No discurso de posse anunciou grandes investimentos, o que espelha seu interesse em projetos na zona sul, perto do litoral do oceano Pacífico, entre eles a construção de um aeroporto para aquecer o turismo e um sistema ferroviário para carga e passageiros que facilitaria o enlace com outros países da América Central.
Contudo, ainda não foi esclarecido de onde virá o dinheiro para financiar essas ideias que, aliás, entram em contradição com suas promessas de redução do gasto público como via para reverter o déficit.
O certo é que o mandatário salvadorenho tem grandes desafios pela frente. Nos mandatos anteriores, a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional tentou diminuir os índices de violência e de pobreza, mas a situação não melhorou muito nesse aspecto.
A Frente conseguiu criar novos empregos e desenvolver programas sociais em benefício dos segmentos mais vulneráveis da população. O esforço foi reconhecido pela CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe, que colou El Salvador no terceiro lugar da lista de nações latino-americanas com melhores resultados na redução da pobreza. Mesmo assim, uma parte dos mais de seis milhões de habitantes continua na mergulhada na miséria, e muitos são vítimas da violência.
Nas próximas semanas veremos qual será o rumo das políticas do novo Presidente. Suas mudanças de tendência política geram dúvidas quanto às linhas básicas do seu governo, além do fato de ter de lidar com um Parlamento dominado pela oposição. Cabe lembrar que uma de suas propostas de campanha, a criação de uma Comissão Internacional contra a Impunidade no país, foi rechaçada por vários dos legisladores opositores.
Isso indica que Bukele vai enfrentar empecilhos no Parlamento. Seu partido, o GANA, originário do ARENA, ocupa apenas 10 das 84 cadeiras, e terá de esperar às próximas eleições legislativas, em 2021, para tentar aumentar sua representação.
Por enquanto, uma de suas primeiras ações – qualificada por alguns de histórica – foi a ordem dada às Forças Armadas para tirar de um quartel o nome de Domingo Monterrosa, assinalado pela Comissão da Verdade da ONU como responsável do massacre de Mozote, em 1981, no qual foram mortas cerca de mil pessoas, a maioria crianças.
Monterrosa morreu em 1984. Ele foi treinado na tristemente célebre Escola das Américas, controlada pelos EUA, onde se formaram torturadores e assassinos ligados às ditaduras militares que ocuparam o poder em nações latino-americanas em décadas passadas.
A incerteza paira sobre El Salvador neste momento, com muitas dúvidas quanto ao rumo do governo que acaba de tomar posse. O certo é que as autoridades terão difíceis desafios econômicos e sociais pela frente e uma batalha a travar no Congresso, onde está em minoria.