G. Alvarado
Confinado numa obscura esquina do panorama mundial por situações muito mais midiáticas, a crise de múltipĺas facetas em que está mergulhada a República Democrática do Congo exige atenção urgente ante o enorme número de seres humanos que sofrem a cada dia mortes, violência e doenças no país africano.
Relatórios da ONU indicam que nos últimos dias de 300 a 400 mil pessoas fugiram da província de Ituri, no noroeste dessa nação, por causa do ressurgimento da violência entre as etnias Hema e Lendu, que há décadas disputam o controle de terras e recursos naturais. De 1999 a 2003 o conflito transformou-se praticamente uma guerra aberta com saldo de dezenas de milhares de mortes e a intervenção de um contingente militar estrangeiro liderado pela França.
A ONU advertiu que os enfrentamentos poderiam espalhar a violência além das fronteiras, inclusive na vizinha Uganda, com quem as relações têm sido instáveis.
Porém, esse é apenas um dos problemas que sofre a República Democrática do Congo. Ituri é a província mais afetada pelo ebola. O vírus já matou mais de 1.400 pessoas e está quase fora do controle das autoridades de saúde. Um dos fatores que levou a essa situação é justamente o conflito interno, somado à falta de recursos para enfrentar a emergência sanitária.
Há meses os especialistas na matéria vêm advertindo sobre os riscos de o surto de ebola se tornar mais grave que o ocorrido em três nações da África Ocidental anos atrás. Aliás, na mesma zona onde está presente o vírus foram detectados casos de rubéola, complicando ainda mais a situação da população local.
Contudo, até agora a atenção tem se centrado mais na situação política do país pelos indícios de uma eventual solução ao conflito armado interno a partir da eleição do presidente Felix Tshisekedi, sucessor de Joseph Kabila. Para alcançar uma estabilidade verdadeira, ele terá de consolidar sua autoridade em todo o território nacional, manejar e atender a massa de migrantes e permitir que a justiça julgue e castigue os responsáveis por graves violações dos direitos humanos.
Caso contrário, o país continuará sofrendo os efeitos de uma crise múltipla que tem aspectos políticos, militares, de segurança e de saúde.
A comunidade internacional deve compreender que não é suficiente mandar militares para tentar controlar a situação. As lacras deixadas pelo colonialismo europeu, responsável pela maioria dos problemas que dizimam a população e cerceiam o futuro das novas gerações, persistirão enquanto não for alcançado um verdadeiro desenvolvimento econômico e social.