G. Alvarado
O governo dos EUA, presidido pelo magnata imobiliário Donald Trump, iniciou no fim de semana passado a anunciada perseguição aos imigrantes sem documentos que moram há anos em várias cidades desse país, entre elas Nova Iorque, Chicago, Atlanta, Los Angeles e Miami.
A operação tinha sido anunciada para começar no domingo, mas já no sábado houve tentativas de captura, como denunciou o prefeito novaiorquino, Bill de Blasio. Ele reiterou que vai manter a condição de cidade santuário e não vai colaborar com os agentes do ICE – Serviço de Controle de Imigração e Aduanas.
As ações, que devem se estender durante esta semana, são focadas em cerca de 2.000 imigrantes. Eles fazem parte da lista de um milhão contra os quais há ordens de expulsão do país ainda não executadas. Aliás, estima-se que no EUA vivem dez milhões de pessoas sem status legal, provenientes do mundo todo. Elas constituem uma fonte da mão de obra barata, não pagam encargos trabalhistas nem se beneficiam com a maioria dos serviços públicos.
Os imigrantes sem documentos fazem o jogo de gato – rato com o ICE, cujos agentes vasculham sistematicamente fábricas e repartições, instalações e até igrejas à sua procura. Essas operações não são novidade nem foram inventadas pela administração atual. Basta ver as estatísticas com as dezenas de milhares de deportados a países como México, Guatemala, El Salvador e Honduras.
Talvez, o novo nesta ocasião seja o fato de o governo norte-americano ter feito um anúncio prévio com detalhes específicos, dando tempo aos sem-papéis de se esconder ou se preparar para evitar serem capturados. Várias organizações sociais e humanitárias inclusive deram instruções para isso.
Outro aspecto é a intensificação do debate político em torno do tema migratório. Trump elevou a temperatura ao sugerir a quatro congressistas do partido Democrata que voltassem aos países de origem de suas famílias. Tudo indica que esqueceu que sua mãe, Mary Anne MacLeod, foi uma imigrante sem documentos que tinha nascido na Escócia, e que seus avós paternos chegaram aos EUA no final do século 19, procedentes da Alemanha.
Os parcos resultados da megaoperação parecem indicar que se trata de mais um truque de Donald Trump para esquentar a campanha eleitoral. Parte disso são as imagens do vice, Mike Pence, visitando um centro de detenção de imigrantes no Texas, nas quais se veem cerca de 400 pessoas entulhadas numa espécie de jaula.
O propósito é gerar pânico, mostrar força bruta, sem importar a violação dos princípios humanitários elementares e várias normas do direito internacional, entre elas o de proteger os necessitados.