G. Alvarado
As notícias sobre a violência armada nos Estados Unidos são tantas e tão incisivas que logo vem à mente o príncipe Hamlet, esse personagem memorável de William Shakespeare, quando confessava: “tenho mais pecados dentro de mim que o tempo para executá-los, ou a imaginação para concebê-los”.
Mais ou menos isso vem ocorrendo com a sociedade norte-americana que parece disposta a não dar trégua à capacidade de assombro com relação às armas, às vítimas, os executores e os culpados.
Na semana passada, no estado de Alabama, um adolescente de 14 anos pegou num revólver e matou a sangue frio os cinco membros de sua família. Depois de jogar a arma num terreno baldio dos arredores, ligou para a polícia e contou que tinha escutado tiros em sua casa.
Nesse mesmo estado, poucos dias antes, houve um tiroteio depois de uma partida escolar de futebol americano e 10 adolescentes na faixa de 15 a 18 anos foram feridos e levados a hospitais para receber atendimento médico.
Comentou-se também que na cidade de Odessa, no estado do Texas, um sujeito desfechou tiros desde seu automóvel contra vendedores, matou seis e feriu 22 antes de ser morto pela polícia.
Mas se você ainda não estiver convencido de que os Estados Unidos são o país mais inseguro do mundo, lá vão detalhes surrealistas.
Um campo de tiro particular de Texas, o Boyert Shooting Center, publicou um anúncio com letras graúdas e em cores que oferece descontos de até 50% na venda de armas de fogo por ocasião do começo do ano letivo!
Antigamente, os pais de família compravam livros, cadernos, lápis, mochilas, sapatos e uniformes. Mais tarde, se somaram os celulares, laptops e tablets. Agora também têm a oportunidade de comprar revólveres pela metade do preço!
O que virá depois? Veículos blindados para levar seus filhos ao colégio? E tem mais. Esse mesmo estado de Texas acaba de colocar em vigor um pacote de leis que relaxa a compra, porte e uso de armas de fogo. De agora em diante, uma família pode ir armada aos domingos às igrejas, sinagogas, mesquitas e outros templos.
Nas escolas, não se pode restringir o tipo e o número de armas que permaneçam dentro dos automóveis nos estacionamentos; um arrendatário deve aceitar que seu inquilino tenha armas e se alguém morar numa zona declarada de emergência ou catástrofe, não tem importância se tiver licença ou não, também pode circular armado.
No paraíso das armas nada surpreende, a não ser o fato de poder chegar a ser velho e poder contar histórias de terror aos seus netos numa noite escura escutando tiros e o ulular incessante das sirenes de ambulâncias e radiopatrulhas.