G. Alvarado
Após incendiar o Equador com medidas de corte neoliberal impostas pelo FMI - Fundo Monetário Internacional, o presidente Lenin Moreno foi obrigado a dar marcha à ré devido à colossal resposta da população, especialmente das organizações indígenas.
Um regime está a ponto de cair quando só lhe resta mandar o exército às ruas, teria dito Nelson Mandela. E essa foi exatamente a situação do executivo equatoriano após 12 dias de protestos, obstrução de estradas e marchas pelo país todo.
Carente de ideias e outros recursos, o presidente lançou a polícia e os militares contra seu próprio povo provocando com sua atitude a ira e o repúdio dentro e fora da nação, de tal maneira que nem sequer a imprensa de direita pôde ocultar o que estava se passando.
Desde o princípio, Lenin Moreno sabia que as pessoas iam estourar. Mal tinham começado os protestos, saiu de Quito para Guayaquil em busca de refúgio e mesmo obrigado a voltar à capital, seu paradeiro sempre foi um mistério.
No sábado, 12 de outubro, a situação se tornou insustentável, em primeiro lugar porque às comunidades indígenas se uniram outros setores, como os estudantes e as organizações sociais que não se renderam ante a brutalidade da repressão, do toque de recolher e a militarização de setores estratégicos da cidade de Quito.
O presidente se viu forçado a escutar as demandas de seus opositores, que foram claros: queriam a derrogação do decreto 883 – que eliminava o subsídio aos combustíveis e estabelecia condições de trabalho draconianas – e o fim imediato da repressão.
Domingo à noite, 13 de outubro, as autoridades anunciavam aquilo que o povo equatoriano aguardava impaciente: o decreto 883 tinha sido derrogado e se dava lugar a um diálogo nacional em busca de uma solução de longo prazo.
Claramente derrotado, Lenin Moreno, cabisbaixo, só atinou a balbuciar algumas palavras depois de escutar o líder da Confederação de Nacionalidades Indígenas, Jaime Vargas, que lhe recordou o elevado preço que o povo pagara pela repressão ordenada pelo próprio presidente.
O mandatário e seu secretário de governo Juan Sebastián Roldan insistiram uma e outra vez em que o decreto 883 tinha por objetivo acabar com a especulação e o contrabando de combustível, porém todo o mundo sabe que tinha sido o resultado das negociações com o Fundo Monetário Internacional em troca de um crédito multimilionário.
Para Nossa América, a vitória dos equatorianos é um estímulo, um exemplo e um compromisso. Ficou provado que diante de uma vontade inflexível o neoliberalismo pode ser derrotado e que os funcionários governamentais são só isso, meros funcionários, porque o poder pertence ao povo.