Por Guillermo Alvarado
Os discursos nas campanhas eleitorais dessas chamadas democracias ocidentais estão repletos de exageros, promessas mais tarde descumpridas e mentiras grosseiras.
É aquela história do político que chega a um vilarejo a procura de votos e as pessoas lhe dizem que têm dois problemas graves.
O primeiro é que lá não tem médico. O sujeito escuta a queixa, pega no celular, fala alguns minutos, gesticula e se volta aos presentes: já resolvi o problema, o doutor chega daqui a dois dias. Qual é o segundo problema? Pergunta. E os moradores do lugar exclamam: O sinal da telefonia celular não chega ao vilarejo!
Me lembrei da anedota quando li um artigo de Joscha Weber, jornalista da rede alemã Deutsche Welle sobre o relançamento da campanha de Donald Trump na Flórida, depois de ter contraído a Covid-19, e das meias verdades e mentiras que tinha dito lá.
“Uma vez que me contagiei, sou imune ao vírus”, repetiu pela enésima vez o presidente, embora não tenha sido comprovada até agora tal imunidade. O epidemiologista Mark Lipsitch afirmou recentemente que não há estudos conclusivos sobre que tipo e durante quanto tempo o SARS-COV-2 produz imunidade.
Quanto aos medicamentos que combatem a essa doença, Trump insistiu que estavam muito adiantados, prestes a serem lançados. “Temos grandes vacinas que já estão prontas: de Johnson & Johnson, Moderna, Pfizer. Acontecerão grandes coisas com estas vacinas”, garantiu o presidente.
A maioria dos especialistas no assunto concorda em que esses imunizantes não estarão prontos neste ano. E tem mais, pouco depois do comício do candidato republicano à reeleição, a firma Johnson & Johnson suspendeu os testes de sua vacina sem dar muitas explicações e no dia seguinte a corporação Eli Lilly paralisou as pesquisas de um tratamento experimental.
Em clara mostra de sua falta de conexão com o mundo real, o chefe da Casa Branca presume de liderar nas pesquisas de intenções de voto e proclama que sua vitória será esmagadora nos estados chave.
Ou não lê, ou não compreende o que está escrito. Todos conhecem bem que Joe Biden, seu rival pelo partido Democrata é o favorito nas pesquisas, embora deixem claro que Biden ainda não venceu.
Em duas semanas, Trump conhecerá a verdade e esperamos se a sorte não lhe sorrir, tenha suficiente coragem de admiti-la. Vale recordar que sua palavra de ordem parece ser: “se a realidade não concorda com meus desejos, tanto pior para ela”.