Por Maria Josefina Arce
O Chile quer uma nova Constituição. Os chilenos exigiram em plebiscito a derrogação da atual Constituição, que data dos tempos da ditadura militar de Augusto Pinochet.
Uma vitória categórica obteve a opção APROVO no plebiscito constitucional realizado no último domingo. O resultado conduzirá à redação de outra Carta Magna e abre o caminho para as necessárias transformações.
A direta sofreu dura derrota, seu voto contra uma nova Constituição alcançou apenas um pouco mais de 20 por cento.
O plebiscito tinha sido convocado após os fortes protestos de outubro do ano passado, quando os manifestantes saíram às ruas para exigir modificações naquela Constituição que consolidava o modelo neoliberal implementado por Pinochet e que aprofundou as desigualdades.
A privatização foi um dos suportes de Pinochet, presente na Constituição. Serviços básicos como luz e água passaram a mãos privadas.
O documento, adotado em 1980, minimizou o papel do Estado e deu luz verde a um sistema educativo restritivo, falta de acesso à saúde e pensões e aposentadorias insuficientes.
Também não garante a proteção e bem-estar das crianças, nem reconhece os povos originários até hoje criminalizados.
As elevadas tensões sociais obrigaram o governo do presidente Sebastián Piñera e as forças políticas a aceitarem a realização do plebiscito, que tinha sido marcado para o mês de abril passado, porém por causa da Covid-19, foi adiado a outubro deste ano.
Mesmo no meio da pandemia, a participação dos chilenos foi elevada. Por quê? Ora, os chilenos querem mudanças no seu país, que se exibia como um dos mais prósperos da América Latina e escondia profundas diferenças sociais.
Foi a votação mais alta dos últimos oito anos, e contou com vasta participação da juventude, um acontecimento sem precedentes.
É muito importante para este processo que começa agora que a maioria tenha se pronunciado que seja uma convenção constitucional a que se encarregue de redigir a nova Constituição.
Os chilenos não confiam nas forças políticas tradicionais, a convenção será composta por membros eleitos pelo povo.
Sem dúvida, domingo passado foi um dia histórico. A sociedade apostou numa nova Constituição deixando claro que deseja um país mais justo e digno, que descarte os mecanismos implementados por uma ditadura responsável pela morte de milhares de pessoas.