Guillermo Alvarado
O presidente da Colômbia, Ivan Duque, demonstrou não ter noção do que está se passando verdadeiramente em seu país quando deu a ordem à força pública de utilizar “sua máxima capacidade operacional” , a fim de desobstruir inúmeras estradas que foram fechadas durante os protestos contra seu governo.
A ordem equivale a uma tentativa insensata de apagar fogo com gasolina, comunicaram grupos sociais, entre eles a Organização Nacional Indígena, conhecida pelas siglas ONIC.
Um comunicado da entidade assinala que tal medida viola a Constituição da República e direitos humanos como a vida, a integridade física e moral dos manifestantes, a liberdade de reunião, de expressão e de protesto pacífico.
Aliás, o uso excessivo da força pelo governo é um dos principais fatores que incidiram na radicalização dos protestos, que começaram há mais de três semanas e se espalharam por várias regiões daquela nação.
Neste entremeio, se acumularam mais de duas mil denúncias por abusos do exército e da polícia, especialmente por conta do tenebroso Esquadrão Móvel Antimotim (ESMAD) que provocou 500 mortos e 600 feridos, muitos com lesões oculares causadas por tiros desfechados pelos militares.
Ao menos 1.430 pessoas foram arbitrariamente detidas, 21 mulheres foram violadas e mais de 520 manifestantes simplesmente sumiram.
Essa brutalidade toda ocorre apesar de o Tribunal de Cassação Civil da Suprema Corte de Justiça ter garantido a 20 de setembro de 2020 o direito das pessoas de se manifestarem e a obrigação das autoridades de prevenir e punir os excessos das forças da ordem.
Boa parte dos abusos ocorreu na cidade de Cali e seus arredores, onde o prefeito local, Jorge Ivan Ospina, pediu a demissão imediata de todos os membros de seu gabinete a fim de acalmar a ira e, segundo ele, criar confiança.
Até agora, fracassou o propósito do governo de conter os protestos, que começaram contra um projeto de reforma tributária (já retirado) e agora continuam para exigir a cessação da repressão e, inclusive, o afastamento do presidente Ivan Duque.
Não se sabe ao certo como vai terminar esta turbulência na Colômbia, um país onde ser líder social e reclamar direitos humanos, como a vida, a terra e o sossego é muito mais perigoso do que ser ladrão, traficante de drogas ou assassino.