Elisa Loncon / ABC
Guillermo Alvarado
O acontecimento mais destacado na 1ª sessão da Convenção Constitucional do Chile foi a eleição da acadêmica e ativista mapuche Elisa Loncón Atileo como presidente dessa entidade. Sem dúvida, constitui um reconhecimento histórico a esse povo indígena.
Ao longo de mais de 500 anos, as comunidades indígenas do Chile foram exterminadas ou ignoradas, primeiro pelos conquistadores espanhóis, e a partir de 1818 pelo recém-nascido Estado chileno que se caracterizava por um racismo extremo.
O território do povo mapuche (designação que dão a si mesmos os araucanos) foi invadido pelo exército em meados do século 19 e os sobreviventes acabaram sendo entregues juntamente com suas terras a colonos que estabeleceram latifúndios nessa região.
Após o golpe de Estado dado em 1973 por Augusto Pinochet, as fazendas se converteram em empresas florestais que exploraram os recursos madeireiros e os mapuches, como as demais comunidades indígenas, ficaram invisibilizados.
Até que se convocou à Constituinte, onde lhes deram 17 cadeiras e puderam participar pela primeira vez na história com voz própria de um evento político em nível nacional.
A eleição de Elisa Loncón como presidente da convenção que deve redigir a nova Constituição, que sepultará a escrita durante a ditadura de Pinochet, é um reconhecimento aos povos que formam as raízes da cultura chilena.
Estamos falando em uma pessoa com sólida formação: estudos de pedagogia em inglês, mestrado em lingüística na Universidade Autônoma Metropolitana de Iztapalapa, México, um doutorado em Humanidades em Leiden, Holanda e outro em Literatura da Universidade Católica do Chile.
É uma destacada ativista pelos direitos de seu povo, fez parte do grupo que preparou a bandeira mapuche que se agita nos protestos e nas comemorações, foi membro de uma companhia de teatro que exibia peças contra o regime militar durante a ditadura.
Ao ser eleita com 96 dos 155 votos possíveis, Elisa falou na fundação de um Chile novo, plural, multilíngüe, junto com as mulheres e os territórios, onde fosse possível estabelecer uma profunda relação entre os que vivem naquele país.
Encerrando a reunião da Constituinte, pediu um minuto de silêncio em memória dos mortos ao longo de 500 anos, das mulheres vítimas de feminicídio, dos que foram mortos durante a ditadura, dos que foram reprimidos na luta por uma nação diferente, justa e solidária.