Photo: Archivo/RHC
Por Guillermo Alvarado
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, torna a brigar, desta feita com uma parte da comunidade científica, que reagiu com justificado enfado contra uma nova arbitrariedade do presidente, habitualmente renhido com o mundo das ideias e o pensamento.
Vejamos o que foi que aconteceu. Como se costuma fazer todos os anos, no Brasil, se divulgou a relação dos escolhidos para receber a Ordem Nacional ao Mérito Científico, um importante prêmio concedido pelo Estado para recompensar as mentes mais lúcidas e brilhantes nessa área.
Os nomes são escolhidos por renomadas instituições e enviados depois para sua aprovação aos ministérios das Relações Exteriores, Educação, Ciência e Tecnologia.
Pois bem, quando tudo estava acertado, Bolsonaro baixou um decreto riscando da lista os nomes de Marcus Vinicius Guimarães Lacerda e Adele Schwartz Benzaken, ambos da prestigiosa Fundação Oswaldo Cruz;
Trata-se de um vulgar ato de vingança, impróprio de um chefe de Estado, ou de qualquer pessoa decente, digna, de bom-senso.
Guimarães Lacerda foi um dos primeiros no mundo em provar que a cloroquina não tem nenhuma eficácia no tratamento da Covid-19, portanto, desmentiu um dos argumentos do presidente brasileiro, que tinha feito propaganda ao mencionado produto.
A doutora Schwartz Benzaken, especializada em AIDS, publicou uma cartilha com orientações à comunidade trans e homossexual, o que provocou o ódio de Bolsonaro, um confesso homófobo.
Esta absurda represália contra dois importantes acadêmicos fez com que 21 dos premiados divulgassem carta pública, na que renunciam à distinção e criticam a hostilidade aberta do mandatário ao setor cientifico.
Assinalam sua política negativista com relação à pandemia, e os cortes nas verbas destinadas à ciência e à tecnologia. Neste ano, só se liberaram 38 por cento das verbas, e em 2022 o orçamento será reduzido a menos da metade.
Na carta pública, afirmam categoricamente: a homenagem de um governo que não só ignora a ciência, mas também boicota ativamente as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva não é condizente com nossas trajetórias científicas.
Sem dúvida, os cientistas deram uma lição de ética que Jair Bolsonaro será incapaz de entender, porque ele é daqueles que pensam: “se a realidade não concordar com minhas ideias, tanto pior para ela”.