O nada

Editado por Irene Fait
2022-06-21 17:54:59

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DPA / ANNA KERBER - Archivo

Por Guillermo Alvarado

No Quênia se acha um dos maiores campos de refugiados do mundo. Chama-se Kakuma, uma palavra do idioma suaíli que significa mais ou menos “o nada”. Nesse lugar vivem hoje em dia umas 180 mil pessoas de 20 países diferentes que se viram obrigadas a abandonar seu lar.

Paradoxal e trágico que “o nada” seja o ponto de chegada de grandes massas humanas, empurradas pela violência e a guerra, as doenças, os desastres naturais, o medo ou o ódio.

É claro que não é o único, porque nos quatro cantos do planeta podemos esbarrar em lugares como esse, onde tratam de sobreviver perto de 82,4 milhões de desesperados, cujo denominador comum é a necessidade imediata de ajuda para satisfazer suas necessidades básicas.

A maioria não sabe que em 20 de junho se comemorou o Dia Mundial dos Refugiados, e também não sabe qual será seu destino final. Alguns chegaram crianças e agora são adultos sem terem conseguido livrar-se da dura realidade que os rodeia.

Outros não atravessaram as fronteiras de seu país, são os deslocados internos para quem viver em sua pátria não significa nenhum consolo.

Se a gente tiver paciência, pode contar minuciosamente a triste situação em que vivem milhões de colombianos no meio da guerra e da violência, os saarianos, encurralados pelo regime marroquino, ou os palestinos, párias em sua terra por culpa de Israel e seus cúmplices.

Vivem desse jeito apesar de que há leis internacionais e convenções mundiais criadas para protegê-los, porém não conseguem cumprir seus objetivos, mal alcançam para mantê-los vivos, com verbas sempre escassas, enquanto que outros esbanjam bilhões de dólares em guerras e armas.

Se você, amigo leitor ou ouvinte, puder tolerar maior crueldade, busque informação sobre o campo de Kutupalong, situado em Bangladesh, é o maior do mundo, onde estão os rohingyas que sobreviveram as chacinas do exército de Mianmar, antiga Birmânia.

Se Kakuma é infame, Kutupalong é verdadeiramente o nada, porque aos seres humanos que vivem lá lhes foi negado tudo: identidade, cidadania, direitos, moradia e vida, literalmente não são ninguém, ou talvez mera referência estatística.

Você vê essas coisas e certamente pensará o mesmo que eu: é muito, muito difícil aceitar que, nestas condições, os humanos que somos, fomos ou seremos algum dia a espécie superior da natureza.

 



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