Edmonton (Canada).N. DENETTEAP
O perdão dos pecados
Por Guillermo Alvarado
O papa Francisco visita nesta semana o Canadá. Trata-se de uma peregrinação de penitência, segundo suas palavras. O Sumo Pontífice viajou para pedir perdão às vítimas dos horrores cometidos por membros da Igreja Católica, que participaram de um etnocídio contra povos indígenas daquele país.
Há vários anos que se esperava este gesto do papa, levando em conta a magnitude dos prejuízos ocasionados a dezenas de milhares de crianças nas chamadas “escolas residenciais”, fundadas pelo governo canadense, mas atendidas por congregações religiosas.
De 1890 a 1997, durante mais de um século, perto de 130 escolas desse tipo funcionaram naquele país, onde, ao menos, 150 mil crianças indígenas foram separadas de seus pais, parentes e comunidades e encerradas nas mesmas.
Lá, foram submetidas a um processo de “integração” para destruir sua cultura, identidade e história; era proibido falar em seu idioma, vestir suas roupas, praticar jogos e entretimentos ancestrais, e até seus nomes originários foram trocados.
Infelizmente, tiveram de suportar muito mais do que isso.
Essas “residências” foram centros de horror, onde se praticaram abusos físicos, de trabalho, psicológicos e até sexuais. Segundo estimativas, ao menos de 4.000 a 6.000 menores morreram por causa dos maus-tratos e a falta de atendimento médico, e seus corpos foram enterrados em valas comuns.
Willie Sellars, chefe do clã Williams Lake First Nation, disse que muitos corpos foram jogados nos rios e lagoas ou queimados. “Para essas crianças não haverá lápida, túmulo, nem um pedacinho de osso que possa ser examinado para sua identificação”.
As descobertas em lugares como a Missão de Saint Joseph, na Columbia Britânica, a ilha Kuper, no oeste do Canadá, ou no internato de Kamloops, não têm nada que invejar aos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Aqueles que conseguiram sobreviver e sair desses lugares estão sofrendo as sequelas; alguns mergulharam na bebida, outros são viciados em drogas, ou padecem profunda depressão e angústia.
O objetivo da viagem do papa Francisco ao Canadá, portanto, é pedir perdão por esses pecados, que não são seus, e sim de setores desviados de sua Igreja. Pedir perdão não só aos povos envolvidos nestas tragédias, mas a toda a humanidade, que é ofendida cada vez que se cometem crimes como os que acabamos de mencionar.
Acho bom que o faça, porque poderia animar a revelar outros horrores escondidos em túmulos desconhecidos em boa parte de nossa região, onde jazem milhares, que ora são procurados por pais, mães, filhos, ou irmãos que vivem entre a dor e a esperança.