Foto: Javier Torres / AFP
Por Guillermo Alvarado
No meu comentário publicado a 21 de março de 2019 dizia que a frase “minta, minta que alguma coisa fica” atravessou a história com inúmeras paternidades, e continua no manual de instruções de políticos sem escrúpulos, bobos inúteis, ou úteis não tão bobos.
É um recurso sempre ao alcance da mão para aqueles que se dedicam a semear mentiras com a convicção de que no final do dia alguma coisa permanecerá na mente de seu auditório e aos poucos se transformará numa convicção inabalável.
Trago o assunto a propósito do processo que está se passando no Chile, onde em 4 de setembro, dentro de mais ou menos um mês, a população deverá decidir se aprova ou rejeita o projeto de Constituição, que deverá substituir a dos tempos da ditadura de Augusto Pinochet.
O processo entrou na reta final com o lançamento da chamada “faixa eleitoral”, mas a briga entre um grupo e o outro existe praticamente desde que se aprovou a criação de uma Convenção Constitucional, encarregada de redigir o texto.
Durante todo o processo, predominou o uso de informações falsas, essas que alguns chamam de fake news.
Um artigo do jornalista Juan Carlos Remirez, publicado pelo jornal argentino Página 12, assinala que entre as mentiras mais divulgadas aparecem supostas conspirações da comunidade Mapuche para assumir o controle do país, e que o governo proibirá praticar qualquer religião.
As mentiras são alucinantes. Por exemplo, uma que diz que o aborto será permitido até três horas antes do nascimento do bebê; que serão eliminados a bandeira e o hino nacional, e a mais difundida: o Estado eliminará o direito de propriedade sobre terrenos, moradias ou veículos.
Fabian Padilla, fundador e diretor da iniciativa Fast Check (Checagem Rápida), afirma que há três tipos de desinformação no processo constituinte chileno. O primeiro é alterar o conteúdo do texto, por exemplo, o caso de eliminação da propriedade.
O segundo é desmoralizar membros da Comissão, como ocorreu com a líder mapuche Elisa Loncón, primeira presidenta dessa instância, que sofreu insistente campanha carregada de ódio, misoginia e racismo.
E o terceiro é atribuir frases falsas a membros do órgão redator, que, embora fossem desmentidas, permanecem como verdades para muita gente pelo mero fato de que saíram nas redes sociais.
Poucas vezes houve um exemplo tão claro da luta entre a verdade e a mentira num processo que devemos acompanhar bem de perto, porquanto contém elementos que veremos, em breve, noutras partes de nossa região e no mundo.