O desenvolvimento humano no mundo tem um ritmo lento, freado por múltiplos obstáculos. Essa realidade é espelhada no informe anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, apresentado no mês passado em Tóquio, capital do Japão.
O documento mostra um panorama sombrio quanto aos avanços sociais em boa parte do planeta, em meio aos efeitos negativos da crise financeira global. A entidade atribui a desaceleração do processo de desenvolvimento humano a fatores como as crises financeiras, a flutuação dos preços dos alimentos, os desastres naturais e as guerras e outros conflitos.
O informe assinala problemas que têm aparecido em muitos discursos e declarações de políticos e autoridades, mas que até agora não foram enfrentados com a firmeza e disposição necessárias. Os países industrializados têm feito pouco para resolvê-los.
Um deles é a chamada “pobreza multidimensional” que atinge 1,5 bilhão de pessoas em mais de 90 países em vias de desenvolvimento. O termo técnico abrange os que sofrem carências em vários aspectos ao mesmo tempo, como níveis precários de vida e a falta de acesso à saúde e educação.
O Programa da ONU para o Desenvolvimento considera que 2,2 bilhões de pessoas vivem na pobreza ou correm o risco de cair nesse status. Isso significa mais de um terço da população mundial. O dado é constrangedor e contraditório num planeta cheio de riquezas.
Um exemplo disso são os alimentos, que seriam suficientes para todos se o acesso não fosse tão desigual. Por sua vez, o acelerado progresso nas tecnologias, ciências, informática e telecomunicações não gera benefícios equitativos na sociedade. O Norte industrializado e um grupo seleto de companhias multinacionais controlam e se favorecem com a maior parte dos novos conhecimentos.
A persistência de vulnerabilidades atenta contra a eventual melhoria das condições de vida em termos globais, em momentos em que cresce o orçamento para a fabricação e aquisição de armas.
A entidade da ONU adverte que quase 7% da população na América Latina e o Caribe vive na pobreza e 10% está muito perto desse status. Um dos fatores é a desigualdade nos ingressos, considerada a maior de todas as regiões do mundo.
Os países desta área geográfica melhor colocados no Índice de Desenvolvimento Humano são o Chile, no lugar 41, Cuba (44), Argentina (49) e Uruguai (50). Não é por acaso, pois contam com políticas encaminhadas a melhorar os serviços básicos, uma das metas promovidas pela ONU.
Apesar dos cantos de sereia das potências ocidentais em torno de uma presumível recuperação da economia global, o recente informe desse organismo especializado das Nações Unidas ratifica que o desenvolvimento humano ainda está longe de ser equitativo e sustentável.
(R. Morejón, 28 de agosto)