Por Luis Manuel Arce Isaac
Qualquer um que tenha acompanhado de perto a importante cúpula de 12 nações da América Latina e do Caribe afetadas pela crise migratória deve ter notado que todas as críticas envolviam os Estados Unidos.
Foi uma reunião breve e, como disse quem a convocou, Andrés Manuel López Obrador, duplamente boa, porque deu início a um novo tipo de união regional na busca de uma solução decente para uma situação indecorosa criada pelos bisnetos e tataranetos de John L. O'Sullivan e James Monroe, que pensam como eles para algemar a América Latina e o Caribe.
Até as mudanças que ora vive a humanidade, a comunidade afetada pelo êxodo migratório não havia se reunido para analisar e julgar suas causas mais profundas, e Palenque contribuiu, em apenas duas ou três horas de análise, não apenas para diagnosticar, mas também para confrontá-las com uma visão de vitória.
Se todas as análises dos 12 líderes tiveram os Estados Unidos e sua política externa agressiva e inadequada aos novos tempos no centro de suas críticas, as soluções também levam a esse mesmo país, que rejeita a ideia de que uma boa vizinhança seja melhor para todos.
O encontro foi convocado sob o lema: “Por uma vizinhança fraterna com bem-estar", para unir esforços, vontades e recursos a fim de atender às causas do fenômeno migratório, afirmou López Obrador.
Tomando esse critério como fio condutor, e assumindo de antemão que o governo de Washington não se moverá de sua posição de negar recursos para deter o êxodo, a cúpula fez uma série de provisões para que a região tente mitigar a crise migratória com seus próprios recursos.
Assim, o comunicado conjunto lido pela ministra das Relações Exteriores, Alicia Bárcenas, oferece os eixos centrais de um plano de ação que deve ser estruturado a partir de agora para produzir resultados, e que envolve os Estados Unidos.
Assim, por exemplo, o segundo dos 13 pontos propõe fomentar o comércio intra-regional de bens e serviços básicos de subsistência, promovendo preferências tarifárias, cotas e a eliminação de barreiras não tarifárias. Por quê? Porque isso não foi alcançado com o comércio com os Estados Unidos.
Outro ponto exorta a solicitar a suspensão das medidas coercitivas unilaterais impostas aos países da região, que são contrárias ao direito internacional e têm sérias repercussões além dos países-alvo. A quem isso se dirige? Aos Estados Unidos.
Pedir aos países de origem, trânsito e destino implementar políticas de migração abrangentes que respeitem o direito humano de migrar, salvaguardando a vida e a dignidade dos migrantes e de suas famílias. Não é preciso dizer que isso vai contra o colosso que está na frente.
Propor esforços coordenados para repensar a arquitetura financeira internacional da dívida soberana a fim de permitir que os países de renda média alcancem níveis mais altos de desenvolvimento, fechem as brechas sociais e reduzam a intenção de migrar. Seria um disparate dizer que Washington é o destinatário dessa mensagem.
Houve também um acordo muito direto no mesmo sentido: "Propor aos governos de Cuba e dos Estados Unidos que mantenham um diálogo abrangente sobre suas relações bilaterais o mais rápido possível", o que Cuba aceita, é claro, e a Casa Branca?
Em suma, parodiando os romanos de uma época tão distante, todos os caminhos percorridos na Cúpula de Palenque levaram aos Estados Unidos.
(Tomado de Prensa Latina)