Habituados a ordenar, mais que dialogar, os dirigentes da União Europeia reagiram com um ultimato à negativa do governo grego de aceitar o chamado resgate financeiro nas condições propostas, que impediria continuar aplicando as recentes medidas de benefício popular no país.
O problema é o seguinte: em 28 de fevereiro conclui a primeira fase desse plano, criado com o propósito de conter a crise. Mas, na realidade o que se quer é evitar uma suspensão dos pagamentos e permitir assim aos grandes bancos privados europeus, principalmente os alemães e franceses, recuperar sua parte da dívida grega.
O bloco europeu deu ao país até a sexta-feira para solicitar a continuidade da ajuda financeira e ameaçou com suspender definitivamente o programa em caso de uma negativa.
A condição imposta ao governo liderado por Alexis Tsipras é que deve aceitar os compromissos adotados pelas administrações anteriores: continuar com as privatizações, as demissões de funcionários e o corte de gastos. O objetivo: conseguir um balanço financeiro público positivo.
Não vamos solicitar a prorrogação com uma pistola na cabeça, foi a resposta dos gregos.
Desde 2009 o Produto Interno Bruto diminuiu 26%, o desemprego é de 27% e, entre os jovens chega a 50%, enquanto 40 % das crianças vivem na pobreza.
Nenhum dos programas de resgate oferecidos pela União Europeia tem melhorado a situação, pelo contrario, a aguçaram. De fato, foi a desespero da população que levou Tsipras e seu partido, a Coalizão de Esquerda Radical, Syriza, ao poder.
Assinar o que exigem seus parceiros corresponderia a um suicídio político para o jovem governante, que em seus primeiros dias no poder ordenou a reconexão elétrica em mais de 300 mil domicílios, decretou um novo salário mínimo, o retorno de três mil 500 empregados demitidos e suspendeu a venda dos portos de Tesalónica e Pireo.
De fato, o que se mostrou nestes dias de intensas negociações são dois pontos de vista totalmente diferentes do modelo europeu. Um deles, representado pela chanceler alemã Ângela Merkel, baseado na austeridade para salvar as finanças e as empresas, e o outro, defendido pela rebelde Grécia, que põe à frente a dignidade humana e o bem-estar da maioria.
Merkel e seu grupo estão empenhados em fazer naufragar o projeto de Syriza para evitar o contágio a outros países.
(GA – 18 de fevereiro)