Após visita de três dias a Cuba, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama já está na Argentina, onde está fresca a memória sobre os desmanes da ditadura militar instaurada depois do golpe de Estado ocorrido há 40 anos e que mergulhou essa sociedade no medo, na repressão e a na morte.
Já tinha mostrado Obama, e repetiu várias vezes durante sua estada em Havana, sua aversão pela história, ou pelo menos por aquela parte da história que recorda o nefasto papel de seu país em acontecimentos trágicos em nossa região, mas não será fácil para ele escamotear a responsabilidade dos Estados Unidos na perseguição, sequestro, tortura e morte de milhares de pessoas.
Sabe-se que o então secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger estava a par dos preparativos do golpe de 24 de março de 1976, bem assim do banho de sangue que viria depois e que custou a vida de pelo menos 20 mil argentinos, entre homens, mulheres e crianças.
Documentos liberados pelas autoridades norte-americanas e difundidos pelo centro de pesquisas National Security Archive pormenorizam a guerra suja das forças de segurança argentinas contra seu próprio povo.
Por ocasião da visita de Obama, e talvez para abrandar os ânimos pela coincidência da viagem com o 40o aniversário do golpe, foi anunciada a eventual publicação de outros documentos.
Organizações civis e defensores dos direitos humanos exigem, também, sejam divulgados sem restrições todos os arquivos que estão nas mãos da CIA – Agência de Inteligência dos EUA – do Pentágono e outras instituições que estiveram envolvidas na repressão durante a ditadura.
Sem dúvida, o presidente Obama terá a oportunidade de escutar o lema “Nunca mais” que arvora uma parte da sociedade, principalmente agora que o governo de Maurício Macri parece determinado a aderir à tática de “ virar a página” proposta pelo chefe da Casa Branca em outros lugares.
Os argentinos também guardam na memória o tenebroso programa conhecido como Plano Condor, uma espécie de multinacional do crime criado para eliminar, em outros países, líderes políticos, sociais, sindicais e comunitários, acusados sem provas de terroristas subversivos.
Igualmente, não esquecem a traição de Washington durante a guerra das Malvinas, quando os Estados Unidos jogaram no lixo o Tratado de Assistência Recíproca para apoiar o Reino Unido, uma potência colonial extracontinental.
Depois de conhecer em Cuba um povo unido apesar de 50 anos de bloqueio e outras agressões, Obama verá na Argentina uma sociedade quebrada pela feroz ditadura que seus antecessores apoiaram.
Lá, verá também como em nome da “democracia e liberdade” no estilo norte-americano foram violados os direitos humanos dos que Obama gosta tanto de falar quando se refere a outros, e não à própria história de sua nação.