Havana, 17 de novembro (RHC).- O chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, tachou de inaceitável a manipulação política do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, a programas humanitários e causas sagradas como o direito à saúde.
Em declarações a Prensa Latina e à rede Telesur, Rodríguez disse que toda a responsabilidade pelo fim da participação no plano “Mais Médicos” é das novas autoridades, por sua postura com os médicos cubanos que prestam seu serviço nesse país.
“Insulta e surpreende que tenha chamado as médicas cubanas – que representam cerca de 60% do pessoal – de 'mulheres vestidas de branco', além da imposição de condições totalmente inaceitáveis que violam os acordos assinados entre a Organização Pan-americana da Saúde, o Brasil e Cuba”, apontou o ministro das Relações Exteriores.
Considerou indignante e inaceitável chamar de “escravos” os médicos cubanos, e sublinhou que a situação terá consequências dolorosas para milhões de famílias brasileiras de baixa renda, as quais reiterou a solidariedade de Cuba.
Rodríguez lembrou que hoje trabalham no Brasil mais de 8.000 profissionais da saúde cubanos, e não nas cidades mais povoadas, nem nas praias do Rio de Janeiro ou em zonas residenciais de São Paulo ou Brasília. Eles trabalham no norte semiárido, nos municípios rurais e nos distritos indígenas, onde garantem o atendimento a mais de 90% dessa população, apontou o chanceler.
Bruno Rodríguez falou que o próximo governo do Brasil não tem a menor autoridade moral para questionar Cuba em nenhum âmbito, nem no da cooperação médica internacional nem no dos direitos humanos.
No Brasil, o médico e professor Arthur Chioro, que foi ministro de Saúde no primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, disse que boa parte do sistema de atenção no país poderia colapsar com o fim do programa “Mais Médicos” depois do fim da participação de Cuba no projeto de assistência primária.
Chioro indicou que a situação significa uma tragédia na vida e na saúde de 30 milhões de brasileiros. Sublinhou que o vexame internacional impacta na relação do Brasil com a Organização Pan-americana da Saúde e gera um cenário de desconfiança generalizada nas relações com outros países que participam de programas na área de saúde.