A Caridade do Cobre, padroeira de Cuba

Editado por Irene Fait
2022-01-20 17:47:00

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O Santuário da Virgem del Cobre. Foto: Radio Rebelde.

Na cidade de Santiago de Cuba, a 860 quilômetros de Havana, a capital desta Ilha, é venerada a imagem de Nuestra Señora de la Caridad del Cobre, conhecida popularmente como a Caridade do Cobre, ou simplesmente Cachita, diminutivo do seu nome.

Foi declarada Padroeira de Cuba em 1916 pelo papa Bento XV e coroada em 1998 pelo então Sumo Pontífice da Igreja Católica, João Paulo II, durante sua visita pastoral a Cuba, a primeira de um papa na história deste país.

Em 26 de março de 2012, Bento XVI lhe outorgou a Rosa de Ouro da Cristandade para comemorar os 400 anos da descoberta da imagem. O papa Francisco, que visitou esta Ilha em 2015, decretou Ano Santo Excepcional da Misericórdia em homenagem ao centésimo aniversário da consagração de Cuba à Caridade do Cobre.

A lenda conta que a imagem foi avistada em 1612 boiando n’água por dois rapazes, os irmãos João e Rodrigo de Hoyos, e um menino negro de 10 anos, João Moreno, escravos que trabalhavam nas minas de cobre. Depois disso, o trio foi batizado pelo povo como os “três João”.

O relato, conservado num documento encontrado no Arquivo das Índias, em Sevilha, Espanha, aponta que “75 anos depois do fato” João Moreno contou, sob juramento eclesiástico, como aconteceu tudo ao capitão Francisco Sánchez de Moya. O militar tinha recebido a missão, pelo rei espanhol Felipe II, de defender as minas da Serra do Cobre na então colônia de além-mar.

Os três tinham ido à costa para buscar sal, na baía de Nipe, ao norte da região oriental desta Ilha. Ali, viram a imagem da Virgem, talhada em madeira com o Menino Jesus no colo do lado esquerdo e na mão direita uma cruz de ouro, flutuando sobre uma tábua, na qual se podia ler a frase: “Eu sou a Virgem da Caridade”. Essa imagem é a mesma que hoje é venerada por todos os cubanos.

Os jovens a entregaram ao administrador da mina de cobre de Barajagua, que mandou construir uma ermida com paredes de madeira e telhado de folhas de palmeira, muito perto dali. Assim nasceu o que seria, no futuro, um dos lugares mais frequentados e respeitados pela população: o Santuário do Cobre.

As lendas contam que em duas ocasiões a virgem sumiu do altar, reaparecendo logo depois com os vestidos de pano molhados. Por isso, acharam que o lugar não era do seu agrado e decidiram colocar a imagem no altar da igreja da fazenda Barajagua, enquanto procuravam outro sítio para erguer uma nova ermida.

Nas três noites seguintes foram vistas luzes num morro da mina, conhecido como cantera, que desapareciam durante o dia. Dessa maneira, foi marcado o lugar onde seria construída a Santa Casa da Divina Senhora da Caridade.

Na segunda metade do século XIX, o país foi sacudido pelas guerras de independência contra o regime colonial espanhol. As tropas do Exército Libertador cubano manifestavam sua devoção à Caridade do Cobre, e pediam sua proteção antes de entrar em combate.

Os outrora escravos e seus descendentes a identificavam com Oxum, orixá da religião ioruba de origem africana. A festa de ambas é celebrada em oito de setembro. A cor que as caracteriza é o amarelo, o que evidencia o profundo sincretismo e a transculturação da religião católica e as de raízes africanas no país.

O santuário original ruiu em 1906 por causa das explosões e escavações das minas. A Basílica Santuário Nacional de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, onde são oficiadas missas diárias, foi inaugurada em oito de setembro de 1927, e proclamada por bula papal de Paulo VI em 1977, que mandou como seu emissário o cardeal BernardinGantin.

O altar é de prata maciça, com objetos ornamentais de alto valor. Sob o camarim da Virgem se encontra a chamada Capela dos Milagres, pequeno local onde as pessoas depositam suas oferendas, entre elas joias de ouro e pedras preciosas. Ali se conserva a medalha comemorativa do Prêmio Nobel de Literatura entregue ao escritor norte-americano Ernest Hemingway, que a colocou aos pés da Padroeira em reconhecimento ao povo cubano por tê-lo inspirado a escrever sua obra cimeira: “O Velho e o Mar”.

Todos os dias, umas 500 pessoas passam por ali. Os peregrinos levam consigo diminutas pedras da mina onde brilham partículas de cobre, que depois são conservadas em suas casas junto a copos d’água, ou carregadas na carteira ou na bolsa, perto do corpo, como proteção contra o mal e boa luz para o futuro pessoal e da família.

Em 24 de setembro de 1915, os veteranos das guerras de independência enviaram carta ao papa Bento XV pedindo a coroação da Virgem da Caridade como Padroeira desta nação. No ano seguinte, em 10 de maio, foi declarada como tal.

O papa Pio XI autorizou sua coroação canônica em 20 de dezembro de 1936, ação realizada pelo então bispo de Santiago de Cuba, Monsenhor ValentínZubizarreta. Anos depois, em 24 de janeiro de 1998, durante a primeira visita de um Sumo Pontífice da Igreja Católica a esta Ilha, João Paulo II coroou e benzeu a imagem na terceira missa que oficiou em sua viagem, celebrada na praça AntonioMaceo.

Ao longo dos tempos, a imagem somente saiu do santuário cinco vezes: em 1936 quando foi coroada pelo Monsenhor Zubizarreta, em 1952 no 50º de fundação da República de Cuba, em 1959 para ser apresentada no Congresso Nacional Católico em Havana, em 1998 para ser coroada pelo papa João Paulo II, e na peregrinação de 2011 por todo o país para comemorar o centenário de sua aparição.

Esta festividade religiosa começou em oito de agosto desse ano e concluiu em 31 de dezembro. Na ocasião, 2012 foi declarado Ano Jubilar Mariano para a Igreja Católica em Cuba, pelo aniversário 400 da primeira vez em que foi avistada, pelos “três João”, a Virgem da Caridade do Cobre.

 



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