Desde 2010, a Associação de Pedagogos de Cuba vem propulsando no país um projeto que se chama TRANSFORMAR PARA EDUCAR, cujo objetivo é transformar a gestão educativa do Conselho de Escola em Cuba – o que em outros países se entende como Conselhos de Família - para que a família e a comunidade se envolvam mais e mais na vida educativa da escola.
Conversando com a nossa reportagem, Mariano Isla Guerra - Doutor em Ciências Pedagógicas e coordenador da Cátedra de Estudos Comunitários “Paulo Freire”, da Associação de Pedagogos de Cuba - explicou que a família tende a jogar o peso da educação nos ombros da escola, quando, em verdade, a família é a que tem o papel principal na formação e desenvolvimento da personalidade dos cidadãos. A função educativa da família nunca termina, começa com a vida e termina com a morte.
O projeto TRANSFORMAR PARA EDUCAR tem por objetivo convencer a família para que assuma, aos poucos, o seu papel na educação das crianças. Ao falarmos em família, não estamos pensando apenas em papai e mamãe, e sim em avô e avó, tio e tia, irmão e irmã, ou seja, em todas as pessoas que, de uma maneira ou outra, têm filhos, netos, sobrinhos nas escolas, afirma Mariano.
O projeto teve duas fases principais: a fase de piloto, de três anos de duração, e a de generalização, de dois anos. Estamos, portanto, no quinto ano do projeto, na fase de generalização.
A metodologia se baseia na educação popular, no pensamento Paulo Freire. A escola, a família e a comunidade devem fazer uma leitura crítica de sua realidade, investigá-la, para poder transformá-la com seu próprio esforço. A família deve sentir-se dona, a comunidade deve sentir-se dona da educação das crianças e dos jovens que vivem na comunidade e frequentam a escola.
Por sua vez, a escola deve abrir-se mais à família, deve abrir-se mais à comunidade; Estamos falando em um processo de articulação e comunicação entre família – escola – comunidade.
A família, a escola e a comunidade devem compartilhar a educação e nessa relação de intercâmbio, cada parte joga o seu papel.
Mariano Isla nos conta que quando a embaixada do Brasil em Havana soube do projeto quis que a escola de ensino fundamental Amizade Cuba-Brasil, por ela apadrinhada, fosse incorporada. Vale recordar que a adesão ao projeto é voluntária, não existe nenhuma lei que obrigue. A escola consulta com os pais e a comunidade a conveniência de aderir ou não. A escola que a embaixada do Brasil apadrinha resolveu aderir, está dando os primeiros passos, escutando as experiências de outras escolas que se acham em fases mais avançadas do projeto.
Segundo o professor Mariano Isla, os resultados obtidos até agora são muito positivos. Transformar para educar conseguiu que a família se voltasse não só para as necessidades materiais da escola, mas também para os problemas que têm a ver com o currículo, com o aprendizado, com o nível de assimilação dos estudantes. Há uma relação mais estreita entre professores e família, famílias jovens são preparadas para enfrentar a educação dos filhos, e todo esse processo tem proporcionado muitas experiências.
Por exemplo, professores de inglês aposentados proporcionaram assessoramento a recém-formados que lecionavam nas escolas de seus netos e estavam precisando de experiência para se sentir mais seguros.
Outro exemplo: uma escola de música e um hospital infantil levavam 25 anos um em frente ao outro sem terem se visto. Nem a escola viu o hospital, nem o hospital viu a escola. Graças ao projeto TRANSFORMAR PARA EDUCAR, escola e hospital se viram e se conheceram. Hoje em dia, o potencial artístico das crianças conforta outras crianças que sofrem de doenças incuráveis permanecendo hospitalizadas durante longos meses.
O Projeto TRANSFORMAR PARA EDUCAR foi levado à prática em 740 estabelecimentos de ensino cubanos, em todos os níveis, e continuam aderindo.