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Havana, 30 dezembro (RHC).- O bloqueio dos Estados Unidos a Cuba começou em três de fevereiro de 1962. Falso. A medida sempre esteve na genética do império norte-americano.
Dois dos chamados pais fundadores da nação: Benjamin Franklin e John Adams, publicamente são os pioneiros de uma lógica expansionista na que Cuba era concebida, no final do século 18, uma presa obrigada numa estratégia de dominação e caçada de territórios rumo ao sul.
A informação explica que o conflito é histórico e que a Revolução de 1959 liderada por Fidel Castro universalizou-o ao colocá-lo numa dimensão mais desafiante, decisiva e radical que chega aos dias de hoje. Desde então, Washington joga a carta da implosão das paredes do sistema cubano, ao falharem as artimanhas e os ataques.
Por isso, em mais de 60 anos, exceto o governo Obama, que lançou mão do plano B, os governos que passaram pela Casa Branca praticamente não afrouxaram as cordas da perseguição.
Permitiram, a partir de 2000, a compra de alimentos com dinheiro vivo, mas fizeram de tudo para tampar as finanças e o comércio da Ilha, e com imaginação diabólica – Trump o mais talentoso – teceram uma malha com centenas de fios de aço, entenda-se ações, para manter a economia cubana em estado de estresse e insolvência.
Nadar contra a correnteza não é impossível, mas o preço é alto. Havana admite isso quando assegura que o bloqueio é o obstáculo principal para o desenvolvimento da Ilha. As estatísticas estão aí para confirmar.
Calcula-se que a Ilha perde 15 milhões de dólares ao dia por causa das sanções norte-americanas. Os números totais em perdas, desde o começo dos anos 1960 superam os 155 bilhões de dólares, isto é, perto de sete vezes o PIB da potência agressora, de longe a maior economia do planeta.
Vamos esquecer os números, sempre considerados frios e impessoais. O bloqueio atravessa as vidas dos cubanos, do ridículo ao trágico, desde não poder enviar arquivos de peso pela internet até impedir tratamentos contra o câncer.
Prestem atenção a estes nomes: Jansen, filial da Johnson & Johnson, Pfizer e Merck Sharp & Dohme são grandes farmacêuticas norte-americanas que embolsam bilhões de dólares. Pois bem, as três olharam para o outro lado quando Cuba quis lhes comprar medicamentos contra doenças malignas.
Em suma, mais de 70 companhias norte-americanas foram procuradas por Medicuba para importar medicamentos, equipamentos e outros suprimentos necessários para o Sistema Nacional de Saúde. A maioria não reagiu e três responderam argumentando que não podiam estabelecer relações comerciais com entidades cubanas por causa do bloqueio. Quando a pandemia da Covid-19 estava no auge, em Cuba, Washington não moveu um dedo para aliviar as sanções. E tem mais. Entorpeceu e frustrou a chegada de suprimentos à Ilha.
Os bancos, as companhias de navegação, as sucursais, as operadoras de turismos e as empresas de terceiros países são ameaçados, multados ou engolidos por capitais norte-americanos se ousarem fazer negócios com Cuba, ou exportar a Ilha produtos que contenham mais de 10 por cento de componentes norte-americanos. A mais recente mesquinharia foi desautorizar um cabo submarino entre as duas nações por razões de “segurança nacional”.
Trinta vezes nos últimos trinta anos, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou por esmagadora maioria contra o bloqueio e exigiu sua cessação, mas Washington só reage com alguns paliativos, uma espécie de esmola para calar a má consciência de um império. Aliás, um de seus estrategistas, o vice-secretário de Estado Lester D. Mallory recomendou em 1960 castigar com fome e outras privações o apoio da população cubana ao então jovem e carismático líder Fidel Castro.
Os protestos em julho de 2021 nas ruas de cidades e povoados cubanos fazem parte e atualizam essa estratégia punitiva, para lá das deficiências e deformações do socialismo cubano. Portanto, a antiga aposta do senhor Mallory continua em vigor. Portanto, o desafio continua; ter prevalecido é a metade da vitória.