Na reta final, a campanha eleitoral nos Estados Unidos derivou num show pobre e triste, caracterizado por insultos, baixarias e discussões e brigas indignas da principal potência econômica e militar do planeta.
Os candidatos Hillary Clinton, do partido Democrata, e Donald Trump, do partido Republicano, se centram em elucidar assuntos turvos, pessoais, familiares, ao invés de apresentar um projeto sério e acreditável de trabalho. Ou, pelo menos, demonstrar quem está mais bem preparado para dirigir o destino desse país que, infelizmente, está ligado de alguma maneira ao futuro de nossa espécie.
Um claro exemplo do nível rasteiro da contenda foi a mais recente edição do que eles chamam “debate”. Durante uma hora e meia, não foi outra coisa senão uma troca de golpes quase desesperados e a ventilação pública de roupa suja. Parecia que sua intenção era mostrar à audiência quem dos dois é pior.
As pessoas sérias que acompanham os pormenores da campanha presidencial nos EUA sentiram a ausência de análises profundas das questões importantes para reaquecer a economia, a criação de empregos para a juventude que chega à idade de exercer sua profissão e se acha praticamente sem chances de encontrar emprego, a redenção da pobreza de milhões de pessoas e a ampliação dos serviços de saúde e educação, principalmente entre as minorias étnicas e os imigrantes, muitos excluídos das supostas bondades do “paraíso capitalista”.
Na área de política internacional, ninguém sabe o que pretende fazer o futuro presidente dos Estados Unidos para enfrentar seriamente a ameaça crescente do terrorismo, como vai tirar suas tropas dos pântanos militares do Afeganistão e Iraque e qual será o programa para implementar a paz no Oriente Médio.
Enquanto se tornam públicas as misérias humanas de ambos os candidatos, nada se sabe de suas prioridades com relação a seus vizinhos da América Latina e o Caribe; se vão respeitar ou não a soberania de nossas nações e a livre determinação dos povos, ou devemos esperar novas intervenções.
Há outro tema importante: o compromisso com a não proliferação de armas nucleares, principalmente no país que possui o número mais elevado destes artefatos e o único na história que o utilizou contra outra nação.
É verdade que houve campanhas sujas, muito sujas, entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos em tempos passados, mas ninguém recorda uma como esta na história moderna. Os valores, os princípios, a responsabilidade e a ética deram o fora pela janela, ruborizados.
Faltam três semanas para 8 de novembro, quando o complicado sistema eleitoral desse país revelará quem foi o menos perdedor da contenda. O eleito terá pouco tempo para passar em limpo um programa de trabalho que, hoje, em dia, permanece debaixo de toneladas de lixo.
(14 de outubro)