Colômbia amanheceu neste fim de semana com um novo acordo de paz, fruto de intensas e ininterruptas jornadas de debates entre o governo e as guerrilheiras Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo, que demonstraram mais uma vez a vontade política das duas partes de pôr fim a um conflito armado de muitas décadas de duração.
O caminho foi árduo. Não isento de divergências, incertezas e dúvidas, dos que achavam que o processo de paz tinha entrado numa fase de estagnação, após a vitória do NÃO no plebiscito do mês passado sobre o acordo acertado em Havana, em agosto passado.
Porém, as duas partes deram ouvidos à maioria da população colombiana, que em espontâneas e multitudinárias mobilizações pediu que não se detivesse a marcha em direção à paz definitiva e à reconciliação do país sul-americano.
Diante do resultado inesperado da consulta popular, o presidente Juan Manuel Santos abriu um diálogo nacional com simpatizantes do NÃO e outros setores, para a modificação do histórico tratado, formalizado na cidade colombiana de Cartagena das Índias em 26 de setembro.
O novo acordo, portanto, é resultado das opiniões coletadas nas últimas semanas e do trabalho sério e responsável do governo e da guerrilha para satisfazer as inquietações e atender às sugestões da sociedade colombiana ao texto anterior.
O documento recém-aprovado é considerado pelas duas partes superior ao anterior. Entre outros aspectos, reconhece que o conflito impactou com especial força a mulher, por isso se requerem ações diferentes e especificas para restabelecer seus direitos.
Estabelece que, durante a entrega das armas, as Farc vão apresentar um inventário de bens e ativos para destiná-los à reparação material das vítimas.
Igualmente, descreve as características e os mecanismos da restrição efetiva da liberdade para todos os responsáveis de crimes durante a guerra interna, que deixou mais de 220 mil mortos.
O acordo mantém seu compromisso com a zona rural, através de uma política de recuperação da família camponesa, que propulse o acesso equitativo à terra e que crie as condições de vida digna.
Cuba, reconhecida em nível mundial por sua vocação pacifista e solidária, foi mais uma vez sede do diálogo que permitiu o nascimento de um novo documento, no qual os ajustes e as precisões feitas não sacrificam as convicções que deram vida ao primeiro acordo, afirmou Humberto de la Calle, chefe da delegação governamental.
Por sua vez, o comandante Iván Márquez, chefe da delegação guerrilheira, afirmou que o novo acordo, que denominou Acordo da Esperança, é um poderoso instrumento para a democratização do país e para a concretização dos direitos das pessoas.
Anos de negociações, superando divergências e chegando a um consenso em assuntos espinhosos com a boa vontade dos países garantes, permitiu que Colômbia começasse a transitar pelo caminho da paz e que a partir de agora se abra uma nova página em sua história.