Tal qual se esperava, o Partido Cristão Democrata da Chanceler Federal alemã, Ângela Merkel, junto com seus aliados de Baviera, ganhou as eleições parlamentares de domingo passado garantido assim um quarto mandato de governo na economia mais poderosa da União Europeia, mas a festa foi ensombrecida pela entrada da extrema direita no Parlamento.
Merkel obteve o primeiro lugar nos pleitos, com 33 por cento de votos, aquém do esperado, por isso já começaram as complicadas negociações para formar uma coalizão legislativa que lhe permita exercer seu quarto mandato sem sobressaltos.
Um de seus potenciais aliados, o Partido Socialdemocrata, de Martin Shultz, sofreu a pior derrota desde 1949, ao obter apena 20,5 por cento das cédulas e já anunciou que não pretende participar do executivo e irá à oposição.
Até janeiro passado pensou-se que Schultz poderia pôr fim aos 12 anos da era de Merkel, mas o entusiasmo inicial que despertou entre a população perdeu impulso à medida que não soube articular uma proposta diferente para Alemanha, onde o desemprego e as desigualdades crescem apesar do vigor da economia e, ao mesmo tempo, sobe a temperatura dos debates em torno da entrada de mais de um milhão de imigrantes.
O desinteresse por Merkel e Schultz revela que os alemães estão rechaçando os políticos tradicionais.
O que preocupa, porém, é que pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial os extremistas de direita representados pela Alternativa para Alemanha, onde fervilham as ideias neofascistas, terão representantes no Parlamento Federal.
O partido xenófobo e racista obteve 12,6 por cento de votos, segundo as pesquisas, o que o transforma na terceira força no país e poderá ter uns 90 deputados. Este número não decide, mas pode erguer sua voz e influir na votação de alguns assuntos.
Nestas condições, os Cristão Democratas não terão outra opção senão pactuar com os Verdes e os Liberais, mas estes últimos rechaçam as iniciativas para reformar a União Europeia, especialmente a criação de um orçamento especial na zona euro como recomendam Berlim e Paris.
Grandes e complicados temas farão parte destas negociações, entre eles a mudança climática e o futuro Acordo de Paris, o problema das grandes massas de migrantes, que continuam batendo nas portas da Europa, a liberalização do comércio internacional e até as relações com EUA e o imprevisível governo liderado por Donald Trump.
Virão dias ou talvez semanas complicadas num país que tem inquestionável influência no Velho Continente e além, porquanto pode contribuir para um precário equilíbrio em crises sensíveis, como as da Ucrânia e a península coreana.
Um tema que devemos acompanhar com atenção.(Guillermo Alvarado)