Por Guillermo Alvarado
O presidente do Peru Pedro Pablo Kuczinsky, mais conhecido como PPK, anunciou ontem sua demissão embora tenha insistido até o último instante em assinalar que era vítima inocente de uma conspiração de seus adversários políticos.
Vale recordar que no dia 22 de dezembro do ano passado, o agora ex-chefe de Estado peruano tinha conseguido driblar uma situação similar, quando lançou mão da troca de votos com o partido do opositor Kenji Fujimori para se manter na cadeira presidencial.
Daquela feita, obteve os votos para sua permanência no governo em troca de indultar o ex-presidente Alberto Fujimori. A população peruana observava com indignação que o indulto permitiu a Fujimori sair da cadeia onde estava pagando uma sentença de 25 anos por violações aos direitos humanos.
PPK estava muito enganado se pensou que tinha conseguido sua salvação definitiva. A rede internacional de corrupção que tinha tecido a construtora brasileira Odebrecht envolveu-o quando era ministro da Economia. E poucas pessoas estavam dispostas a esquecer que empresas ligadas a seu nome receberam até cinco milhões de dólares por supostos assessoramentos.
O tema voltou ao legislativo, que aceitou discutir e votar a deposição do presidente por incapacidade moral. A sessão chave aconteceria nesta quinta-feira, mas ontem ocorreu o inesperado estopim que precipitou a demissão.
Os protagonistas, pasmem, foram de novo os filhos de Fujimori, só que, desta feita, em lugar de resgatá-lo, afundaram Kuczinsky definitivamente quando apareceram os chamados “kenjivídeos”, onde se vê deputados comprando votos para PPK em troca de obras públicas em determinados distritos.
A indignação foi tamanha que uns 100 deputados disseram estar dispostos a exigir a destituição do presidente, um número muito superior aos 87 necessários.
As pessoas, agora, perguntam o que vai se passar. Pois bem, conforme a Constituição, deveria assumir o cargo o primeiro vice-presidente. Martín Vizcarra, atualmente embaixador do Peru no Canadá, com experiência zero em administração pública.
Se Vizcarra não aceitar, aí a seguinte na linha de sucessão é a segunda vice e primeira-ministra Mercedes Aráoz, uma feroz defensora de Kuczinsky e sua linha neoliberal.
A terceira opção é o presidente do Congresso, Luis Lagarreta, que teria de convocar a eleições no prazo de um ano para preencher a vaga definitivamente.
Não há muito tempo para pensar. Peru está às portas de sediar a 8a Cúpula das Américas, um evento que o próprio PPK se encarregou de envenenar quando excluiu da lista de convidados o presidente da Venezuela Nicolás Maduro.
O próximo chefe de Estado peruano terá de carregar, também, a continuação do escândalo Odebrecht, porquanto os problemas de Kuczinsky não terminam com sua demissão. Em vez da cadeira presidencial, seu próximo lugar poderia ser o banco dos réus e de lá, talvez, a cadeia que é o que lhe corresponde se for declarado culpado.