Um santo deste mundo

Editado por Lorena Viñas Rodríguez
2018-10-16 08:57:40

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Foto: La Prensa.

Por Guillermo Alvarado

Finalmente, 38 anos depois de ser assassinado por lutar em favor dos direitos humanos e uma vida digna para seus compatriotas, o Vaticano incluiu em seu santoral o bispo salvadorenho Oscar Arnulfo Romero, um símbolo do que os pobres deste mundo esperam da Igreja Católica.

Para muitos setores da população, a canonização de Arnulfo Romero talvez seja tardia, ainda que no imaginário dos salvadorenhos e dos latino-americanos , Romero já representa os mais puros valores da solidariedade, o amor aos semelhantes e o repúdio à exploração.

Desde muito antes de que os tortuosos mecanismos do Vaticano chegassem a essa conclusão, para as vítimas da repressão, os familiares dos desaparecidos, os torturados e assassinados pelas ditaduras militares, o padre salvadorenho já era santo, não porque o ditassem as normas do direito canônico, e sim por ter sacrificado sua vida pelos indefesos.

Longo foi o caminho percorrido até conscientizar seu dever, que cumpriu a despeito da indiferença de seus superiores e a hostilidade de alguns de seus irmãos de fé, que preferiram contemporizar com a ditadura militar.

Quando viajou ao Vaticano para se reunir com o papa João Paulo Segundo e informar-lhe das atrocidades cometidas pelo exército contra o povo, a burocracia eclesiástica tentou impedir o encontro, mas não conseguiu devido à ousadia e à determinação do bispo salvadorenho.

As inquietudes de Arnulfo Romero, contudo, não sensibilizaram o Sumo Pontífice da Igreja Católica, o que levou o bispo a radicalizar sua postura a ponto de pedir aos solidados que não obedecessem as ordens de seus superiores que tinham mandado atirar contra o povo. Diante disso, o comando do exército e os dirigentes da direita política decidiram planejar a eliminação física do padre.

Em 24 de março de 1980, quando celebrava uma missa na capela de um hospital oncológico, um facínora desfechou um tiro no seu coração. Os mentores do assassinato pensaram que, finalmente, poderiam calar sua voz.

Nada disso ocorreu. À morte de Arnulfo Romero se somou a de Rutilio Grande, seu amigo pessoal, de Camilo Torres na Colômbia, dos jesuítas da Universidade centro-americana José Simeon Cañas, de El Salvador, e do bispo guatemalteco Juan Gerardi, verdadeiros expoentes da teologia da libertação, segundo a qual a salvação do ser humano só pode começar pela redenção de seus sofrimentos na Terra.

Hoje, o santoral católico tem um novo santo. O povo crente e sofrido da América Latina, porém, leva mais de três décadas venerando Arnulfo Romero como santo e visita seu túmulo na Catedral de São Salvador para tributar homenagem ao homem que deu sua vida pelos demais.



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