Por Guillermo Alvarado
A morte de uma menina migrante guatemalteca de apenas 7 anos estando ela custodiada pelas autoridades norte-americanas revoltou todos que souberam do triste acontecimento. E mostra a necessidade de criar já um sistema que garanta verdadeiramente os direitos das pessoas que por diferentes razões sejam obrigadas a abandonar seus lugares de origem.
Jakelin Caal acompanhou seu pai, Nery, de 29 anos na viagem aos Estados Unidos com o propósito de escapar da pobreza que devasta sua comunidade, um pequeno vilarejo do município de Raxruhá, no norte da Guatemala.
Em seis de dezembro foram detidos numa região desolada de Novo México e várias horas mais tarde, quando eram levados de ônibus junto com um grupo de migrantes, a criança começou a vomitar e estava com febre alta. Quando chegaram a seu destino tinha parado de respirar, foi reanimada e levada de helicóptero a um hospital da cidade de El Paso, Texas, onde morreu em oito de dezembro.
Ao serem capturados gozava de boa saúde, portanto adoeceu e morreu estando sob a guarda do governo dos Estados Unidos, porque seus funcionários não lhe prestaram a devida atenção. Por exemplo, ninguém se lembra se recebeu ou não água e alimentos após ser detida, mesmo sendo tão pequena e vir de uma longa e esgotadora viagem.
Era uma menina indígena, pobre e guatemalteca, dados talvez irrelevantes para os que tinham a obrigação de zelar por ela.
Raxruhá, como quase toda a zona rural no norte da Guatemala, é um lugar onde a pobreza e a fome são endêmicas, mas nas últimas décadas, a situação piorou devido à usurpação de solos pelos latifundiários para plantar palma africana, o que exterminou praticamente o cultivo de milho e de outros alimentos básicos.
Esta situação está levando muitas pessoas a fugir de lá rumo aos Estados Unidos com a ilusão de encontrar uma vida melhor para tirar suas famílias da miséria. A história de Nery Caal e sua filha, Jakelin, é uma de centenas que nascem da desgraça e costumam terminar na desgraça.
Primeiro, são vítimas dos grandes proprietários agrícolas, e da corrupção e incapacidade de seus governantes para lhes oferecer vida digna. Depois, são exploradas pelos traficantes de pessoas, que tiram deles todo o dinheiro que possuem obrigando-as a se endividarem ou venderem seus poucos pertences para financiar uma viagem de improváveis resultados.
E para terminar acabam padecendo a intolerância, o racismo e a xenofobia dos que guardam as fronteiras do paraíso proibido, instigados por um presidente, o senhor Donald Trump, que levou ao paroxismo o ódio contra o que é diferente e alheio.
Jakelin Caal morreu por culpa dessa cadeia de iniquidades, porque seu povo e seus pais são pobres, muito pobres; porque seus governantes se esqueceram deles há muito tempo, porque precisam arriscar a vida para resolver os problemas por seus próprios meios. Tristes lições para um mundo que está perdendo o sentido da decência e da dignidade.